terça-feira, 8 de dezembro de 2009

sobre o lado de dentro



Se pareço nostálgica é por pura força do hábito, tenho um defeito de fábrica, nunca aprendi a escrever feliz, apesar de não acreditar num mundo sem redenção.
E, sempre quando falo em morte, quero dizer renascimento. Fui batizada de maneira muito apropriada, mesmo que este meu nome tenha sido uma escolha aleatória.
Sou dona de invernos e verões muito próprios. Eu sei que não se pode brincar com a vida, pois em plena luz do dia se morre; disse Lispector. Mas eu brinco com a minha vida porque sei o limite dela, respeito minhas próprias regras. Já que não suporto o imprevisível, torno-me súdita e rainha da minha própria tirania.
É díficil me reconhecer. Às vezes, eu também me perco nessa minha existência. Nesta hora, é justamente de clareza que preciso, já que morro de medo de não dizer as coisas do modo que deveria e acabar sendo mal compreendida.
Revejo o ponto de partida da minha história. Quando menina eu nunca tentei definir o que era a felicidade.

Será que existe o trem de volta?

De todo modo, eu esperarei no portão da minha casa, se a hora chegar.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Novos Mares



Que tal navegar pelos mares da vida? Tomar o leme, consultar a bussola e ser levado pelo gingado das marés?

Embarcando... O Capitão

Avistem um horizonte de amores e crônicas.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Os Dois Lados


Acordei e te vi ao meu lado, ainda dormindo e rindo. Meu peito se encheu de uma felicidade estonteante, pensei até não haver lugar para tanta! Ainda te observando dormir, lembrei de quando tudo começou: uma foto, conversas on line, incerteza. Lembrei do primeiro encontro, das tolices ditas, das gargalhadas e de como eu me encantava a cada dia. Inútil tentar fugir, era o que eu pensava. E agora estou aqui te vendo ao meu lado, em seu sono infantil.

Eu nem sequer acordei. Eu te vi em sonhos. Você vinha em passos firmes e parecia cumprir uma promessa de tempos; pôr uma porta abaixo. Veio com algo nas mãos, era uma semente. Você se pôs em mim e tratou de regar. Eu não percebi e você já estava frutífera, povoando todo que me diz respeito.

Em pouco tempo eu descobri que eu te adoro. Adoro as coisas que você fala, que você faz, que você pensa. Adoro em todos os sentidos da palavra. No começo foi difícil entender de onde vinha tanto desejo, tanto carinho. Ainda hoje não tenho essa resposta, mas já não tento entender e apenas sinto. E assim vivo te adorando.

Em uma nota eu percebi que te canto, que te toco. Invoco-te. Em uma cor, eu te pinto e você se faz aquarela. Eu te decoro do início ao fim, de pronto ao avesso. Você se faz viva e eu te reconheço no horizonte; teu riso que não se põe, teus cabelos de brilhos eternos e teus olhos de mar. Responda-me, se você pode, minha pequena, de onde vez tanto frescor? De onde vem tanto sabor? De onde veio você?

E não canso de me encantar por tudo o que é você. E não me canso de adorar tudo o que é você. Seu cheirinho matinal de algo que não sei identificar, seus olhos inocentes que me fitam e paralisam, seu sorriso largo e calmo. Até mesmo quando você ri das minhas manias, eu te adoro.

Meu peito e essas manias aprendidas não sei em qual canto e não sei como. É um batucar de cá, um sambar de lá tal nome que não ouso falar pelo poder que tem. É com essas manias que ele me deixa tonto sem saber onde pisar. É desse jeito que ele me convence de coisas que não sei nomear, e não ousaria dizer pelo significado que tem. Mas não nego que reconheço seu nome, quando em estrofe curta eu ouço ele sussurrar. Carol. Seu nome em brisa, em fogo, em tempestade.

Não faço versos tão bonitos, mas te adoro. E te adorando eu respiro tua alma, teu riso, tuas mãos e pés, teus olhos e cabelo. É algo que só cresce. Algo que me enternece, me contagia e me faz flutuar, saltitando. E eu me faço toda tua, sem restrições. Eu te adoro em mim.

Eu já não sei escrever só o meu nome... Nem só a minha história. Sei escrever-nos, em pontas de pena no pergaminho de tua pele.


Texto escrito em parceria por Carol e William


sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Sopra Vento Norte!



"Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confudimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir...

...Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão em minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair"

Chico Buarque - Eu Te Amo

Mas haverei de comer-te com os olhos. Desejando, como ninguém, todas as tuas curvas, todas as tuas manchas, todos os teus sinais. Num compasso de tesão, com nenhum juízo, vou invadir os teus poros, teus ouvidos, tua boca. Em meus olhos famintos estão; teus seios eriçados que perfuram a blusa, teus joelhos cambaleantes que antecedem tuas coxas, teus pés curvados que antecedem o gozo e os lábios entreabertos que sugerem prazer. Um suspiro. Um gemido. Um tapa. Uma palavra torpe. Outra vez.

Abocanharei teus olhos!

Mas haverei, também, de comer-te com os lábios. Alagarei, como ninguém, tua língua, teu queixo, teu colo, tuas virilhas. Na euforia da minha excitação, com nenhum pudor, vou lamber teu pescoço, embaraçar teus cabelos, apertar os teus ombros e encaixar teus quadris em algum canto de mim, com a pressão exata de quem ama a devassidão. Tua pele tem gosto de mar, de lua, de imprevisto. Tem gosto santo-profano. Tem gosto pagão. Tem coisa que não sei dizer.

Saquearei teus lábios!

Morrerei de ansiedade, padecerei sem sono, sucumbirei aos pensamentos libidinosos. Que Deus perdoe a minha alma! Mas, antes, vou te lançar em qualquer esquina diante de uma testemunha sem vida e sorver a tua alma, o teu sexo. Vou assaltar teus membros debaixo de alguma sombra noturna em busca daquele prazer de ontem que nos fez jurar loucuras. Ou ainda te despir meticulosamente em uma garagem, pleiteando espaço com o capô de um carro ou coisa parecida.

Ah, o teu corpo; que se abre e se entrega. O teu corpo que se atreve numa sede desenfreada, insaciável. Ele grita seu dono, ele grita meu nome.

Ah, o meu corpo; sem escudo, sem freios. Meu corpo tão quente feito a habitação dos eternos pecadores. Ele pede tua carne, ele quer você.

Porque somos primeiro sentimento, carne, alma e espírito.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Cuide de você


“Recebi uma carta de rompimento.
E não soube respondê-la.
Era como se ela não me fosse destinada.
Ela terminava com as seguintes palavras: “Cuide de você”.
Levei essa recomendação ao pé da letra.
Convidei 107 mulheres, escolhidas de acordo com a profissão,
para interpretar a carta do ponto de vista profissional.
Analisá-la, comentá-la, dançá-la, cantá-la. Esgotá-la.
Entendê-la em meu lugar. Responder por mim.
Era uma maneira de ganhar tempo antes de romper.
Uma maneira de cuidar de mim.”


Exposição "Cuide de Você" da artista plástica francesa Sophie Calle.
De 22 de setembro à 22 de novembro, no Museu de Arte Moderna da Bahia.

http://www.sophiecalle.com.br/

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

sentimentalmente

Minha vida, o claro sol do dia, que está um pouco quente, o céu de um azul inacreditável com nuvens brancas, tudo se torna mensagem nítida para que eu comprove o quanto você tem sido importante pra mim. Agora, neste exato momento, vou recordando todos esses dias e fico cada vez mais encantada por você. Como descrever esse tipo de coisa que muda a nossa vida numa perspectiva inesperada e exclusiva? Não dá, eu sei. Dos gestos, da fala, de cada minúcia que vamos percebendo e descobrindo na pessoa amada, até as idéias políticas, literárias etc… Assim quanto mais eu te percebo mais profundamente te amo. O seu sorriso, minha vida, seu cabelo, quando você vai se soltando e se tornando mais menino e lembra as brincadeiras e frases da infância; é incrível como a vida é simples, e nós complicamos tudo! Ontem, na sua casa, eu estava te observando e vendo como somos amigos íntimos, como nos divertimos um com o outro e mesmo quando brigamos, ficamos chateados um com o outro sabemos que ficamos porque damos uma importância imensa a tudo que o outro significa.

Sua presença em minha vida me transformou: minha espiritualidade se tornou mais aguda, meus textos ganharam mais cor, eu amadureci muito, a descoberta total do outro. O ato de conhecer, que é um ato de amor, eu tenho descoberto em você, na nossa relação ainda tão nova, tão criança, mas com uma entrega total de um para o outro, aquilo que é inexprimível, por mais poderosa e divina que a palavra seja, então como dizer tudo isso numa simples carta?
My father Caio dizia que o amor deveria modificar a vida de uma pessoa. E ele tem razão. Vejo o quanto você me modificou. O quanto você me fez sentir mais bonita e mais interessante.Não me vejo sem você, nunca! Hoje você é a minha vida porque você me deu vida.

Então, desejo um dia lindo pra você Minha Vida!

Eu-te-amo.
(assim, bem devagarzinho)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Séculos

Por ti eu venci reis. Com armas brancas e a vontade de um rebento.
Os venceria outra vez.

Por ti eu desvirtuei sacerdotes. Com a fé e a doutrina de um pagão.
Os tornaria gentios em busca de um deus desonhecido.

Por ti eu convenci juízes. Com a eloquencia do coração e a revolta de um injustiçado.
Tomaria seus assentos e governaria com minhas leis.

Por ti. Fiz da rotina passado, do avesso um céu, da metade o sabor de um todo, do nó um laço. Eu me venci.

Por ti eu venci guerras que voce desconhece. As venci.

Por mim, voce se fez. Se entregou.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

temporariamente

Estou é sem tempo: relógio no conserto, fronteiras a perigo.
Volto a me buscar noutro mundo, então.






*Aviso aos navegantes:
Abandono a velha casa e parto para uma nova. Com novas cores, novas formas e um novo horizonte bem ao alcance da minha janela.
Passando sempre aqui pra um caffé au leit, of course :)


sexta-feira, 14 de agosto de 2009

intimamente

Em noites vazias, Salvador parece muito mais densa quando olhada daqui de cima, da janela do meu quarto.
Já é inverno, dois dias de céu estranho, pouco sol, nenhuma chuva, apenas vento úmido e plantas amarelando do lado de fora.
No parapeito da janela percebo que já acumulo milhares de imagens e frases soltas que são, na verdade, um passaporte pra meu mundo interior.

Sinto saudades de ti.

Roteiro de dias fragmentados. Sem rumo, sem guia.
Não me deixe. Por favor. Não me esqueça.
Coloca a tua mão sobre minha cabeça. Invoque minha alma, me traga de volta.

Quero a eternidade e mais alguns dias contigo.
Sempre, sempre, sempre.
(Que palavra linda!)

Salvador ficará aqui pra sempre.
Quietinha, a nossa espera.

Intimamente, desejo: Vamos nos fotografar, reproduzir eu e você num clarão instantâneo. Uma imagem absurda, porém, luminosa, capaz de fazer dois seres estranhos se sentirem bem. Representados. Vivos. Ainda que longe, tão longe estivessem.

E assim nos manteremos apenas juntos.

Na brisa que entraria pelo meu quarto. No desejo de nos arriscar em um vendaval.
No cheiro de pão quente que nos faria acordar.
No verde das plantas que íriamos cultivar no nosso jardim.

O que aconteceu?
Nada?

The dream is over.
É sempre o mesmo equívoco, já se sabe: as plantas morrem nas manhãs que antecipam a dor.

Não irei chorar.
Uma mulher de verdade nunca choraria sozinha no parapeito da janela, sentindo nos ossos a densidade do ar de Salvador.

Amar, amar, além mar.
the dream is comming back.
E recordar, ás vezes, é se atirar em quartos escuros.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Pele e Suor

Eu te quero. Sem limites. Sem medo. Eu desejo tanto voce. Perco o sono, o trajeto. Desespero. Meu desejo é forte. Aperta o peito. Ferve o sangue. Cerra os olhos. Faz sorrir. Treme a carne. Ata os pés.

Os seus ombros firmes, cingidos de pétalas. Seus olhos em matiz. Sua alma enxarcada de amor. Seus cachos em vida própria buscando meus dedos. Sua forma em minha forma, feito quebra-cabeça.

Dá-me. Se doe para mim. Se lance em mim. Mergulhe em mim.

Segura-me. Não me deixe fugir. Não me deixe hesitar. Toma-me com seu calor.

Como se consuma meu desejo? Você me satifaz. Você me deixa sedento. Como te querer menos? Voce povoa os meus recônditos desejos e pensamentos.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Amanda

Eu ainda tento me recompor ao pensar em suas mãos apoiadas em meu tórax e no seu corpo repousando sobre o meu, um repouso dinâmico. Uma contradição que só você sabe ser, que só você sabe causar. De espanto e prazer, medo e confiança.

“Não tenha medo”. É o que você me diz. É o que você sabe dizer. O faz com uma doçura que aprendeu consigo mesma. Numa destreza que é só sua, me olhando com ternura de uma flor e com a eficiência de um guerreiro você desvenda minha alma, transpassando-a feito lâmina me expondo sem saber, minhas luzes, trevas e cicratrizes. Você já me conhece sem saber. Eu já sou seu despojo, seu carinho, seu companheiro, seu amor.

Você entrou aqui com aquele vestido violeta-desbotado, sem alça. Com a confiança no seu sorriso constante, coragem sobre os ombros expostos, intrepidez nos olhos alvos e uma experiência no compasso dos pés que você faz questão de esconder.

E eu que nada sei sobre isso tudo. Um menino leigo completamente ignorante. Só me faça deitar no seu corpo quente e escorregadio. Enquanto eu ouço o seu melhor verso de hoje; “Não tenha medo”.

sábado, 11 de julho de 2009

Mais do que Palavras


Na noite de vinte e um de Dezembro como quase sempre fazia, ela pôs a mesa apenas para duas pessoas, sentada na mesa balança os pezinhos e cantava com ele com voz estridente, prontos para as conversas intermináveis. Para ela, não havia maior prazer na vida do que ficar ali, junto ao lado dele, com o seu rosto tão perto, passando o dedo na pele gostosa e macia, desenhando as covinhas. Ele tinha os cílios mais lindos. Nariz fino e um queixo bem bonito. Ele era lindo.

Costumavam brindar em todos os momentos, celebravam sempre o porquê de estarem juntos. Ele sempre muito agradável a cubria de beijos por todo o corpo, ela timida, apenas sorria; exploravam os seus corpos prestando atenção em todos os detalhes. Durante a madrugada em meio a lençóis entre beijos e respiração ofegante faziam juras de amor, diziam palavras doces enquanto abraçados tocavam-se delicadamente.Os dois respiravam.

No canto esquerdo da sala, a árvore de Natal com apenas dois presentes, decidiram que naquele ano não seriam previsiveis e prometaram surpresas ao abrir o embrulo.
Ao amanhecer ele a cobria de mais beijos , mas agora com gosto de cerejas suculentas, pedindo que fechasse os olhos a conduziu até a cozinha. Eram apenas dois jovens descobrindo o amor. A maneira que ele a acariciava a deixava sensível e ao mesmo tempo ofegante, transpirando.
Seus dedos desenhando os seus seios, suas mãos passeando entre os fios de seu cabelo, ele sabia como fazê-la mulher e desejada. Nunca antes havia sentido as sensações daquela noite, a maneira como ele a beijava, fazendo-lhe esquecer do limitado lugar onde estavam.

Não haviam se despedido e já esperam ansiosamente o momento em que estariam juntos novamente e se esqueceriam do mundo lá fora.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Suas


Eu amo as suas coisas
As coisas que você diz
As coisas que você faz
As coisas que voce ama

terça-feira, 30 de junho de 2009

Em Absoluto

*Foto Vanessa Lino*




Ainda sinto o cheiro do quarto em que ficamos, lembro-me do lençol sobre a cama, do telefone e das flores que ele havia colhido para mim. Nós dois deitados com os dedos colados, olhando para o teto em um estado de concentração que nos levou a profundos devaneios. Lembro-me das suas palavras, geralmente ele falava ao pé do ouvido com suavidade tudo o que eu queria ouvir, fazíamos planos em quanto nos despedíamos do sol naquela tarde de sexta feira. Já havíamos caminhados de mãos dadas e nos deliciávamos entre as ruas de paralelepípedo num mundo de cores que dava o tom do nosso amor.
Recordo-me do seu olhar quando me viu na esquina. Ele havia dito que iria me esperar, mas eu não dei certeza se iria; Ele declarou há um tempo atrás o perigo que corríamos em andarmos juntos, muitas vezes a tentação o fazia perder a razão; amava-me sem esperança e agora me amava mil vezes mais ainda.
Bastava-me ouvi-lo a declarar suas intenções para que eu pudesse obedecer cegamente e atendê-lo sem precisar de súplicas. Ao avistá-lo percebi o sorriso mais singelo de todos. Foi então que senti o toque do seu abraço, o seu perfume e minutos depois sentiria o calor de nossos corpos. Ele falava sobre minha ingenuidade e sobre meu sorriso tímido, eu virava o rosto fingindo está tudo bem, porém eu estava em estado de pleno prazer.
Ele levantou-se e retornou arrastando o seu dedo nas cordas do violão meio desafinando com a voz desajeitada e um pouco rouca cantava: "... meus beijos sem os seus não daria, os dias chegariam sem paixão..."
Não consegui pronunciar uma palavra sequer, meus lábios mudos receberam a primeira lágrima de alegria e emoção; meus olhos eram responsáveis por todas as emoções. Havia palavras perdidas em minha mente. A vida seria bonita dali pra frente, agora tínhamos uma música e uma história; tínhamos um ao outro como ardentemente esperávamos.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Partida





Finalmente estava de volta após me ausentar durante três meses. Já se passava dois dias que eu havia me encontrado com ele naquela cafeteria e eu imagina que ele havia me aguardado com ansiedade, mas eu estava redondamente enganada. Novamente apresentou indiferença e dessa vez seus olhos estavam cheios de altivez. Percebi também que ele evitava o meu olhar. Eu reconheço que ele teve motivo para tal. Tínhamos combinado que nosso encontro seria apenas para resolver alguns assuntos inacabados, nós dois sempre vivemos com tudo às claras. Ficou claro para mim que ele estava agindo apenas por obrigação. E eu tinha certeza que estava ali apenas por minha conta e risco; nosso último semestre não foi agradável, nossa separação mexeu muito comigo, na verdade ainda não consegui superar tudo o que aconteceu. Mas agora não tinha muita escolha, estávamos ali apenas como amigos, ou conhecidos; muito diferente do dia em que nos conhecemos e juntos tivemos a impressão de estarmos loucamente apaixonados; contentíssimos à mesa, nos tornando amigos íntimos e amantes.
Eu citei sem intenção alguma de persuadí-lo um momento que tivemos juntos nos bancos em frente a cafeteria, quando ia mencionar o céu um tanto quanto avermelhado ele me interrompeu dizendo que aquilo não importava mais e pediu que fôssemos direto para o assunto. Porém me surpreendeu quando disse que apesar de tudo eu fui sempre honesta e virtuosa.
- Não sei se há razão no que diz - O interrompi. Mas sem que ele percebesse derramei lágrimas e soltei um suspiro.
Eu sabia que não seria fácil superar o que vivemos, mas a boa notícia é que eu estava disposta a abrir mão de toda a nossa história. Pela primeira vez eu tinha plena certeza que ter esperança só era uma forma de esconder a verdade. Apesar de termos muita coisa em comum e termos vivido algo que nos marcou muito, não éramos para ser eterno. Trocamos os sentimentos quando decidimos dar um passo maior no nosso relacionamento. Como amigos éramos fantásticos mas como amantes nossa história não duraria. Eu sei que talvez eu tenha aceitado isso muito tarde, após todo ciúme e brigas, mas por outro lado só agora eu tenho a certeza que sou o bastante forte e estou realmente convicta que posso deixá-lo seguir. Reconheço também que seria muito mais fácil se ele fosse seguir só, pelo menos no início; mas não foi assim que aconteceu. Ele está respirando satisfação e desejo por sua nova garota de cabelos enegrecidos e flores no pescoço.
Surpreendi a todos com a minha decisão de deixá-lo partir, dir-se-ia que o destino estava ao nosso favor e que tudo que nos aconteceu desde o início foi como de propósito.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Separação






Quatro dias já se passaram depois daquela cena ridícula de ciumes. Muita confusão, choro, intrigas e gritos, na verdade todo tipo de desordem. Eu achei que tinha superado nós dois. Há momentos que pareço uma louca, quando perco a razão, ou talvez exagero e acabo demonstrando o meu lado infantil. Foi o desespero que me induziu a tomar tais atitudes, poucas vezes me senti tão ameaçada. É um raciocínio tão absurdo...
Mas é que você é tão bonito, sim, bem bonito, pelo menos para meu gosto! E possivelmente para o gosto de tantas outras garotas.Pois você consegue virar a cabeça de muitas mulheres.
E hoje o dia já começou tão mau, muitas coisas ruins aconteceram. Fatos absurdos, ridículos e estúpidos. Algumas descobertas, na verdade é nisso que eu estou pensando agora, às dez horas da noite, sentada na minha pequena poltrona.
Depois do dia de ontem onde voce não mencionou qualquer coisa a respeito daquela cena. Não só isso, como também evitou o bastante a falar comigo. Na verdade por te conhecer o bastante sei que está me tratando com indiferença e demonstrando até uma hostilidade e desprezo.Em contrapartida, não consegue também esconder que está sendo pesado para você, que sou importante, por isso de alguma forma procura me manter por perto e me estimulando para fazermos algumas tarefas juntos. Inventa que temos que estudar sobre física.
Reconheço que foi tudo muito desagradável , principalmente para mim, mas apesar de decidir a não te procurar mais, não estou disposta a fazê-lo. Estou bem contrariada, o meu humor não está sendo um dos melhores, mas na verdade mais cedo ou mais tarde isso iria acontecer. Eu sei que meu desgosto agora só aumenta, principalmente quando eu te vejo passear com ela de mãos dadas, exaltando sua beleza, comunicando a todos a sua felicidade. Confesso que meu coração bate com força e que me falta sangue-frio quando vocês se aproximam para me saudar. Mesmo reconhecendo que um dia isso iria acontecer ainda fico aqui nessa poltrona sob o impulso de sensações confusas. E finalmente aceito que a catástrofe que eu estava prevendo realmente aconteceu e de forma dez vezes mais massacrante do que eu imaginava.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Afinco




Naquela noite (jamais hei de esquecê-la!) me aconteceu algo que julgava irrealizável, apenas uma idéia associada a um desejo violento e apaixonado.Lembro-me bem do seu sorriso e dos seus olhos a brilhar, com o corpo envolto em um lençol. Na banquinha ao lado da cama, um jarro com algumas flores, a janela aberta com a cortina branca sendo soprada pelo vento. Um frio aconchegante. Esse foi o cenário do último dia de Inverno.Ainda sinto seus dedos compridos a tocar a alça do meu vestido sobre os meus ombros, o seu beijo no meu pescoço e sua mão sobre a minha cintura. Você gostava de soprar os meus cabelos. Nada comparado ao nosso primeiro beijo como nossos lábios eufóricos; agora estávamos bem seguros e íntimos. Nossa vida tão cheia de afinidades, nossos gostos em comum, tudo que é nosso em perfeita sintonia. Parecia que íamos pintando um quadro, criando uma história em quadrinhos, não era tão fantasioso como a maioria das histórias de amor, mas era singelo e singular, bem particular.Toda essa lembrança me passa no lapso dum segundo e de súbito explodo em risos e lágrimas; um misto de sensações. Penetro o seu olhar apaixonado, continuo a sorrir maliciosamente, você se entregou de uma forma tão efusiva, penetrou-me a alma.
Não me encontro decerto em meu estado normal, mas compreendo esse meu desvario. Você se entregou a mim, permitiu-se me amar.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

5 de maio

Aqui dentro, o sonho sempre foi uma ponte
pra me ver despida de agulhas.
Deixar-se fazer em verbo,
(o que é outra prisão.)
-
Parto pra esfera onde não há bases de formas
uma árvore me tem em cor e voz
enquanto o meu corpo, o mar acorda.
Quando me disperso, estou lavada de cinza.
-
Quarto, nuvens, água, trago, café:enxugam.
O passar dos anos, a vida, o amor
E tudo o mais é sempre o mesmo.
-

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Conserto

Não era nenhum tipo de atração física. Não era sentimento. Nem mesmo paixão pelas minhas ideias e meu humor. Era um vício, uma debilidade, uma necessidade.

Era ela querendo se aproximar. Iniciar algum tipo de relacionamento. Ela sempre confundia seu vício com amor e minha indiferença com uma eminente paixão. Mas eu era apenas o alvo da sua necessidade. Necessidade de consertar as coisas. Eu era algum tipo de elemento infeliz que não sabia aproveitar a vida e precisava de alguém como ela. Eu era mal amado porque simplesmente não tinha experimentado o amor, pensava. Mas era o contrário, já o tinha conhecido por isso o evitava. Ela imaginou que eu tinha me tornado miseravel e insensível por desvirtudes da vida, e assim se via diante de seu calvário, sua cruz sua missão irrevogável; me fazer "humano".

Mas ela nao conseguia enxergar, ela não me amava. Eu era o que ela precisava, um aleijado.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Vácuo


Minha inspiração se foi quando voce me disse adeus.

sábado, 28 de março de 2009

Kill Love


Que amor que nada! Vou pegar minha Hattori Hanzo e sair por aí mutilando todo idiota que aparecer na minha frente.

Happiness is a warm gun.


Só porque eu achei a estrelinha azul que você perdeu, eu comecei a repensar no nosso amor.
-
Baby, eu não seria tão bizarra quanto um filme do David Lynch, nem tão intensa quanto os filmes do Bertolucci que assistimos juntos. Como sempre, fico no meio termo.
Porque não sou feia e nem burra demais. Também não sou vermelho e nem azul. Eu sou lilás (e pessoas lilases não são bem compreendidas). Eu sou a vã tentativa de ser isso ou aquilo, o tudo ou nada, a coincidência e o planejado.
E ainda sim, sua super-capa protetora me faz alcançar o céu…
-
Porque enquanto não havia medo, voávamos alto. Vôos do tamanho do nosso ego. Entrando e saindo de ruas invisíveis, achando-nos invensíveis.
Não ter medo é pensar grande, nós sabemos, mas também é pensar atropelado. Sinto um fosso entre o corpo e a alma. E o que eu chamo de precaução, receio, calma, cautela, você chama de medo.
-
É medo! Medo de te perder subitamente. Medo de perder o seu cheiro, o seu gosto e o seu toque. Medo de perder as suas histórias, seus discursos repetidos, seu jeito engraçado, ranzinza… Da tua calma junto a minha.
-
As vezes sinto uma vontade de gritar: Não me deixe!
Tem cabimento? Não! Eu fico no meio termo.
É que o medo estrangula a garganta.
-
Você agora faz filmes, enquanto cria um filme próprio da alma. Nele você consegue me ver. Nele, você vê minha memória cheia de heranças doloridas de porfazeres, você me filma sozinha, tomando aspirina, pedindo a chuva que obrigue o sol a ir embora. Você me filma, enquanto penso em você. Seu roteiro construido sobre frases mortas.
Sabe, em um desses nossos momentos levianos eu vi claramente nossos corpos entre odores e lençóis, enquanto caíamos juntos agarrados ao travesseiro. Você me entende, e me completa. Você me beija, me abraça forte, me morde (mordidas beirando sangue), faz promessas apaixonadas e sinceras confissões.
-
Você acha que penso em outro.
Miséria de vida maldita! Porque sempre isso?
Pensando nisso você masturba-se. Depois se angustia.
Eu perco a calma.
Você quebra cascos de coca-cola na cozinha.
E nós aumentamos o volume, enquanto gritamos por cima da voz de Patti Smith.
Você me tira pra dançar.
Serão? Será? Fazer o quê?
-
Nosso dia é filmado assim: nossas tardes passam calmas, denunciando o quanto a noite vai ser extensa.
Você se perde. Eu não passo do ponto.
Baby, eu só sou tragicamente dividida. Mas te aviso: você possui um lado meu, o meu melhor lado!
-
Só porque colei na palma da minha mão a estrelinha azul que você esqueceu, nosso amor deixou de ser mero pensamento.
-
It’s not a declaration, I just let you know.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Amargo



Geralmente quando a chuva cai existe um atrevimento talvez natural de recordar-se dos momentos bons da vida e na maioria das vezes esses momentos são sempre a dois. Lembramos do primeiro olhar, do primeiro beijo e até da primeira briguinha de casal. Recordamos-nos de quando andávamos de braços dados entre as folhas do outono, do chocolate quente após tomar aquele banho de chuva. É sempre assim! Quando estamos envolvidos emocionalmente nos iludimos com o para sempre, escondemos os defeitos e exaltamos as qualidades de quem amamos na tentativa de deixar doce o que é amargo. Perdemos-nos em meio ao labirinto de tristeza e tentamos desvendar o enigma do sofrimento, principalmente do nosso sofrimento. Mas mesmo assim reconhecemos que é difícil abandonar quem amamos, mesmo tendo mil motivos para não se permitir, sempre encontramos outros mil motivos para tentar novamente acreditando na ilusão da felicidade perpétua. Somos envenenados novamente pelas fantasias e falsas esperanças. O olhar que era doce, as palavras que era amáveis tudo isso se perde com o tempo. Existe uma auto-indagação sobre as promessas de amor, sobre as palavras de romance, sobre os beijos e abraços; então entendo que quando estou envolvida não estou apaixonada, estou perdida, porque na verdade não existe amor, existe a ilusão de amar.

sábado, 21 de março de 2009

Confesso




Meu coração estava fechado para qualquer fantasia. Principalmente as fantasias que o amor cria quando estamos apaixonados. Eu havia decidido não me envolver e o fiz por muitos anos.
Vivia uma vida "normal". Trabalhava, estudava e fazia atividades físicas.
Caminhava sem me prender a nenhum detalhe de cor, pessoas, flores. As vezes parava e agachada alisava a cabeça do cachorro que estava por perto; outras vezes me encantava com o sorriso ingênuo da criança no parque. Mas nada de fato prendia a minha atenção. Eu escolhi que fosse assim.
Lembro-me uma vez de ter ido a uma festa de crianças tinha muitos balões coloridos , doces e brinquedos por todo o salão, desejei que a vida terminasse ali entre a inocência e a esperança; mas não foi assim. Eu me sentia confortável nesse meu mundo até que você chegou!
Eu me lembro da primeira vez que eu te vi; não acreditei que em uma pessoa apenas poderia estar tanta beleza. Os seus olhos meigos espalhando mel, seu sorriso doce, sua pele macia. Você caminhava como se fosse o único naquela rua, na verdade eu lhe fazia o único naquele momento. Depois de muitos anos, pela primeira vez eu me senti atraída por algo desconhecido.
Eu percebia os seus passos, fazia torcida para que você voltasse a passar. Marquei em minha agenda todos os dias que eu te vi juntamente com os horários e sobre as linhas derramava a cena que eu desejei tanto ver, mas o que eu não sabia era o que estava sendo escrito nas entrelinhas.
Senti-me uma boba, só quem me conhecia percebia o meu sorriso desabrochar quando eu te avistava, mas todos desconheciam o motivo pelo qual meu sorriso aparecia.
Você se tornou um vício bom, um costume agradável. Sem que você me soubesse sabia seus horários e seus caminhos e de longe te percebia.
Faltava em mim coragem de falar o meu nome e também o meu interesse e admiração por você.
Eu achei que todas as outras garotas também fazia o mesmo e isso de certa forma me inibia; mas um dia eu decidi saber de você.
Perguntei o seu nome ao motorista do ônibus das 15:00 e não acreditei quando ele disse que você morava umas quadras após a minha. Essas informações despertaram em mim algo que posso chamar de um surto bom e eu fui à sua procura.
Aos poucos fui ficando sem saída, perdi as linhas e lá estava falando com você ao telefone.
A sua voz ainda está aqui dentro de mim e seu sorriso como um sorriso tímido e vergonhoso me encantou. Mas a melhor parte foi quando você pediu meu telefone, eu cheguei a dizer que finalmente o dia chegou e revelei que esperava ansiosamente por esse momento. Você sorriu e novamente despejou encanto.
Começamos a nos revelar; nome, idade, atividades, gosto e acabamos descobrindo que temos muito em comum. Desejei tocar a tua face e beijar-te suavemente os olhos. Agora espero ansiosamente ver-te e conto os dias através das rosas que tenho plantado para colher e entregar para você, e confesso que nunca vi um Domingo demorar tanto de chegar!

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

" O troco "




Desculpe a sinceridade, mas você está lutando com as únicas armas que tem.
Diz que é dependente de mim e que eu causei isso; mas eu sei que mulher nenhuma é dependente do que sente por qualquer homem.
Eu quis tanto quanto você, e se eu te tratei da maneira que eu tratei foi porque você permitiu que fosse assim. Mas acabou.
E eu sei que você vai fazer o possível para me reconquistar, para que eu volte a te desejar e olhar pra você, mas para mim esse seu jogo é baixo.
Você pede que eu volte para casa e até expulsa todos os motivos pelos quais acha que eu nao deveria voltar, mas alega que precisa de mim, nao apenas porque me quer, mas porque
depende de mim, isso pra mim, é nao ter amor próprio.
Você se apegou a mim, e até deve me amar, mas procure outra homem para surprir as suas carências.
Você diz que eu sou racional, propõe que por apenas uma noite eu batesse na sua porta com flores , vinho e esquecesse o resto do mundo. Mas comigo as coisas nao funcionam assim.
Diz e insiste em dizer que eu nao dou valor ao seu sentimento, que nao ligo a minima para os seus esforços para me fazer sentir bem mas nao sabes que ainda lembro do momento em que te conheci, da flor em seus cabelos, da cor da sua sandália e do desenho da sua blusa.
Lembro da chuva que tirou a tinta ruiva do seu cabelo , do táxi que pegamos, lembro de muita coisa que nem o tempo fará com que eu possa esquecer, e nao me diga isso que eu digo é apenas mais uma promessa de um canalha disfarçado de um bom rapaz. Você nunca está satisfeita com as coisas que eu faço. Mas as minhas palavras nao eram vazias muito menos soltas ao vento, todas elas tinha um sentido verdadeiro; eu quis mesmo que desse certo, que fosse tudo diferente entre nós.
Eu me guardei pra ti, como um homem fiel ao que sente, fiz tudo do seu jeito, dei o tempo que precisou e entao tive você em meus braços, pele suave, perfume arrebatador e tudo isso em um momento que jamais vou esquecer. Eu te amei em silêncio por 03 anos enquanto você vivia de namoro a namoro, de decepção em decepção e eu quis fazer tudo diferente, mas no fim percebi que o problema nao eram os homens, mas sim você. Você com esse seu jeito possessivo, esse ciume incontrolavel, essa carência sufocante. Eu fui forte, suportei tudo isso calado, tentando fazer com que desse certo. Com você eu quis ser um homem melhor, desejei que você me tornasse assim; mas com o passar dos anos vi que isso nao poderia acontecer, afinal você nao é mais a minha menina de flores nos cabelos e agora eu sou apenas um canalha.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Another sad history

Ilustração: Talita.
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Normalmente sinto medo dos começos e dos finais. E mesmo não querendo ser tão íntima tenho a certeza de que, insinuarei um oceano de melancolia logo abaixo da superfície. Não que eu ame muito. O problema nunca é amar muito, o problema é sempre amar demais. O amor é perigoso para quem não resolveu seus problemas ou quando ele não acaba no coração de uma das partes envolvidas.
O amor delata, o amor incomoda, o amor ofende, fala as coisas mais extraordinárias sem recuar.
Durante muito tempo esperei um elogio e só recebi em troca a verdade. Durante muito tempo esperei liberdade e a única coisa que tive foi ter a minha capacidade de amar proibida (porque é sempre incômoda). Embora pareça, não estou magoada. Tudo isso é só uma forma decepcionante de se contar uma história.
Durmo suando frio e disfarço que foi um pesadelo. Desfaço as pistas e suspeitas assim que termino o relacionamento. Queimo o que fui. E recomeço, com a certeza de que não houve testemunhas.
Tenho medo dos começos e dos finais, porque nunca consigo ser o que sou. Porque sempre pareço ser mais fraca do que sou. Fui fraca e me envergonho em pensar que alguém já conheceu o meu lado obscuro.
Foi quando fiz da dor uma alegria quando não mais restava alegrias.
Decidi que tudo deve desmoronar. O problema é o tédio do círculo da vida.
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(tudo o que começa, termina)
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Quando ouvi isso, decidi viver. Talvez todos estejam certos, menos eu. Talvez os outros enxerguem muito mais o óbvio do que eu... Álias, tenho certeza.
E então resolvi matar o meu amor. Mato porque não tolero o contraponto. Mato e mudo de personalidade, ao invés de conviver com minhas personalidades inacabadas e falhas. Mato porque não sei mais de nada. Prefiro ficar em paz com as (poucas) certezas. Mato porque sei que o amor contado em segredo no quarto, já foi contado entre lamúrias e pequenos sorrisos pelos cantos da boca na cozinha.
O problema é sempre o tédio do ciclo da vida... Fim. Começo... Vida. Morte...
Você viverá histórias como a minha, e eu histórias como a sua.
Dói em mim, e tenho certeza que doeu em você também.
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Essa é só outra história triste.
Mas meninas não choram
(Não como você).

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A Felicidade Conjugal - Tólstói

"[...] não existia mais; e também nas atitudes dele já não via exemplos de perfeição, já não riamos sem motivo, olhando um para o outro, pelo simples prazer de rir. Tudo isso foi desaparecendo sem que notássemos. Agora cada um tinha seus prórpios interesses e preocupações, que não procurava compartilhar com o outro. Passamos a aceitar com naturalidade que cada um aceitasse seu próprio mundo, onde o outro não tinha lugar. Acostumamo-nos tanto com essa situação que nossos olhos já não se turvavam quando olhávamos um para o outro."

"O culpado disso é o tempo e nós mesmos. Em cada fase da vida há um tipo de amor... - disse ele e calou-se por um momento. - Devo dizer toda a verdade? Já que você quer franqueza... No ano em que nos conhecemos, eu passava noites em claro, pensando em você, e construí eu mesmo aquele amor, que foi crescendo no meu coração. Da mesma forma, em Petersburgo e no estrangeiro eu não dormia, passei noites horríveis estraçalhando e destruindo aquele amor que me torturava. Mas não o destruí inteiramente, destruí somente a parte que me fazia sofrer. Fiquei tranquilo e agora eu a amo, mas com outro tipo de amor."

"Não vamos tentar repetir a vida - continuou ele - não vamos mentir para nós mesmos. E vamos dar graças a Deus por não termos mais as inquietações e ansiedades de antigamente "

"Precisamos viver todo o absurdo da vida, para podermos voltar à vida verdadeira[...]"


Trechos Extraídos*

A Felicidade Conjugal - Leon Tolstói- Pag 100, 119, 120, 121.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Uma dose de canalhice, por favor.

Nem me venha com esse seu charme meia-boca. Coisa de homem que se acha sagaz e esperto, mas é um canalha fantasiado. Finge bem o humor-requintado, dizendo-se divertido e inteligente. Tudo isso ao mesmo tempo. Em pose de psicólogo que pode me definir a partir de uma conversa no bar da esquina. Sou desaforada? Poética? Doce? Ah não! Sou daquelas que voce engana com seus versos decorados de livros de citação. Me diz quem eu sou. Mas sem essas palavras que você aprendeu num rótulo de embalagem qualquer.

Aposto que agora você esteja satisfeito. É, satisfeito. Me fez dependente da sua companhia, numa estratégia egoísta e impiedosa. Soube identificar minhas carências. E não só isso. Supriu todas elas, como convém ao seu estilo. Estilo conquistador barato.Fez com que eu gostasse mais de mim mesma. Dizia que eu tinha inúmeras qualidades que nem eu mesmo conhecia. Eu acreditei. Me via agora como alguém que valia a pena. Me convenceu de talentos só seus. Acreditei novamente. Menina fácil.

Você vinha sorrateiro. Mãos no meu rosto, na minha cintura. Dedos nos meus cabelos. Doces em minha boca. Beijos no meu umbigo. Talento de quem canta a própria poesia. Fingia a paciência dos deuses, ouvindo todas as minhas baboseiras que voce confessava ter algum valor. Me prometia o mar, o céu e seu par de meias se fizesse frio à noite.

Tudo isso foi questão de tempo, e durou enquanto não me entreguei. Quando não fez mais sentido e seu ego já estava cheio de si mesmo você se retirou. Mas o meu orgulho é mais forte e você vai viver na incerteza de ter me feito presa, ou não. Eu não vou te ligar. Não vou mandar mensagens. Vou apenas te difamar, sem você saber, como faço agora.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Maxixe e Giló




Boa mesma é aquela sensação dos pés no chão. Pés em calçadas de cimento. Nos paralelepípedos em brasa que formam as ruas do interior de algum estado. Enquanto vou daqui a lugar algum. Melhor dizendo, vou até à quintanda da esquina comprar ovos para fazer o bolo. É bom sentir as pequenas pedras incomodarem os pés acostumados a tênis, sandálias e sapatos.

E lá estão as donas de casa sentadas à frente da porta olhando quem passa. Conversas longas. Falam de alguns, parentes de parentes. Como sempre. "Cumpadre do tio do meu primo", "vizinho da falecida Mercedes, irmã do Chico do Açougue". Com lenços nas cabeças e olhos sofridos esperam seus maridos chegarem da pescaria, da feira, da roça. Algumas arriscam a novela das oito. Algumas crianças jogam gude na pracinha, brincam de pique-esconde e pircula.

A maré desponta a encher e venta fresco no quintal da casa. Ali tem um pé de acerola, outro de tamarindo. Algumas mangueiras por perto. Há fartura de frutos. Dá até pra tirar na mão. Há o risco das formigas. Mas quem se importa? Olha lá, os gatos se lambendo perto da lavanderia e as galinhas ciscando enquanto o galo observa quieto sobre um galho da laranjeira. Está anoitecendo e a cigarra canta alto. Várias delas. Em minha infancia eu subi aquelas pequenas montanhas. Joguei mangas apodrecidas para o jumento que meu avô criava. Tomei corrida de uma daquelas vacas.

O banho no cais junto com alguns carregadores de feira de dia de sábado. Saltos de ponta a cabeça na maré que inunda o maguezal. A disputa pra chegar na lancha ancorada a cem metros do cais.

O almoço com legumes frescos. O pirão. A farinha no feijão. A pimenta na muqueca. O copo com água. O suco de limão. A mesa com oito lugares, todos ocupados. Os risos. As bocas cheias e falantes. Os dedos no prato. O lamber dos beiços. A oração.

Boa mesmo é a sensação de liberdade. Sem corre-corre. Com simplicidade. Sem etiquetas. Sem ternos. Daqui da rede pendurada na varanda.

Com férias.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Coisa e tal




O som ainda é o mesmo, as notas mudaram , porém a canção ainda é latente. Após um tempo juntos, fui aprendendo a dançar a sua música e a arrastar os meus pequenos dedos de unhas compridas nas notas de pestana do seu violão. O tempo passou e estamos aqui cantando. Guardo e ainda ouço os momentos de Temperos & Destemperos da sua vida e uma parte que estive do seu lado. Olho para a prateleira e vejos os vídeos, os filmes. Acesso a caixa de memória fotográfica e lembro de todos os momentos que estivemos juntos. Do primeiro ao último encontro. De vê-lo encostado no carro com um calça jeans, uma allstar e uma camisa manga 3/4 listrada a camisa vermelha e short branco e havaianas nos pés esperando eu chegar para compartilhamos a sua viagem. Poder olhar para trás ver o ano que se passou, o quanto aprendemos juntos, sorrismos, expressamos solitude, tristeza, desânimo mas sem nunca desisti. Da pizza de frango com suco de laranja ao lache enorme do subway naquele sábado a noite. Das fotos sem sentido as fotos secretas. Das músicas cantadas, dos sentimentos expressados, do silêncio que fala. Da programação para o almoço, da lista de compras, do som alto na sala da casa, das facas, dos garfos, dos sabores, do gosto do vinho na taça de cristal. Eu lembro de todos esses momentos. Dos chocolates a a cada domigo, dos e-mails longos, das músicas apresentadas, do Urso de Pelúcia, da troca de presentes. Da saudade ao partir, do tchau ao telefone do acenar de mãos ao entrar no ônibus e das ligações comunicando a chegada, tudo isso ainda é muito latente em minha memória. Das lágrimas, dos risos, das dores, dos amores. Um ano se passou e estamos aqui, fortes, amavéis, amigos, amores. E nao apenas um ano que marca o momento em que nos conhecemos, mas o saber que um dia após você estaria soprando teoricamente mais uma vela. Olhar para o passado nao tão distante e ver que você foi o melhor presente que pude receber no ano de 2008. Saber que chegamos até aqui e que pela primeira vez posso lhe desejar um feliz aniversário, e nao apenas isso; estar ao lado do meu melhor amigo no dia que ele perde um ano de vida nesse mundo. Existem canções que me lembram você; canções que deixei de escutar e canções que quando te sinto distante faço tocar. Sinto-me honrada por ter recebido a graça de poder ser a sua amiga e tê-lo com meu amigo. E nao apenas por isso, mas por estamos geograficamente tao pertos; de poder ver quando dá saudade, de lamentar porque nos veremos quando estamos chateados, de poder ligar e gastar horas ao telefone sabendo que está ali, logo à frente. Enquanto escrevo essas palavras sem usar de rascunho lembro-me das vezes que estivemos juntos. Tanto do dia 21.01.09 o mais recente quando o dia 29.01.08 naquela estação para irmos a livraria. Do primeiro presente que eu lhe dei, um livro de Dostoiévski. Poderia falar de todos os momentos que gozei do tempo ao lado do meu amigo que hoje completa mais um ano de vida e que me inspirou para escrever essas palavras; mas tudo o que se passou nao se compara ao que poderemos passar, sendo que se já te suportei por um ano, o resto é fichinha. Veio a minha memória as mensagens sem sentido no celular, as piadas, os trocadilhos, o ciume, foi tudo muito bom. As fotos, as caras e bocas. Os sermões de cuidado e expressão de carinho. O aniversário é seu, mas eu que me sinto agradecida por ter te conhecido e tê-lo como amigo e ser a sua amiga. Eu nao voltaria atrás para mudar nada, se o fizesse seria para reviver tudo. Hoje eu conheço você, sei os seus gostos, as suas preferências, sei o que nao aprecia. Conheco o seu ser sistemático. O gosto pelo arroz branco, a falta de preferência pelo macarrão. Pelo creme de leite, pelo suco ao invés do refrigerante. O seu gosto pela abóbora, o seu pavor de fruta com verduras. O seu gosto por filmes, o seu sarcamos, sua "intolerância" para com a indiferença. Nao que eu discorde ou que concorde, muito pelo contrário, feliz aniversário! Beijos, nao me liga!

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Diário Virtual


Ao redor do radinho de pilha estavamos nós dois e nossos amigos mas próximos. A alguns metros um vendedor de cachorro-quente com seu carinho vermelho, o vendedor de algodão-doce e o vendedor balões reparava em nós e ria das nossas longas piadas e risadas. Sentados sobre a grama verde, à sombra daquela enorme árvore, expressava-mos o dom do amor e da amizade.
Lembro do dia em que estavamos marcando aquele encontro. Fazia algum tempo e por alguns motivos estavamos distantes; cidades diferentes, profissoes distintas e um passado cheio de lembranças infantis. Lembraça da pipoca comprada no circo , da maçã-verde da roda gigante e do macaco esperto do zoológico. O nosso passado estava muito latente em nossas vidas.
Nao é fácil esquecer os momentos que vivemos juntos; o dia e a maneira que nos conhecemos. Nossas mães juram que já eramos amigos e amantes antes mesmo de nascermos; dizem isso porque por sorte ou ironia do destino temos a mesma idade e celebramos nosso aniversário meses bem próximos.
Mostra-nos as fotos que guardam de lembrança, todos nós reunidos e grudados nas pernas dos nossos pais, com nossas bonecas e carrinhos de madeira. Guardam como se fosse um prêmio o vídeo nos nossos primeiros passos e a foto do nosso beijo de amigo.
Mas nós tívemos um rumo diferente dos nossos outros amigos; dizem que quando criança, vivíamos abraçados, davamos beijo no rosto, fazíamos carinho um no outro e os nossos pais e os pais dos nossos amigos apostavam quem um dia estaríamos junto. Eu queria lembrar desses momentos que eles tanto nos falamos, tento imaginar quando vejo a fotografia. Nao sei você lembra daquela fotografia onde você estava de cueca com bichinhos e eu com uma calcinha branca sem blusa e brigavamos pelo copo de leite segurando um de cada lado. Eu carrego ainda comigo essa foto. Mas sei que com toda certeza você lembra do susto que me deu quando escondido atrás da porta esperava eu passar; você sempre gostou de me assustar. E falando em assustar é impossível nao lembra do dia que travamos uma briga de travesseiros e ao bricar de te sufocar fingiu-se de morto e depois sorriu esmagadoramente do meu despero. Como é bom lembrar desses momentos.
Certo dia peguei a caixa de fotos e cartas e achei o broche que ganhei do garoto de óculos de fundo de garrafa que sentava na primeira cadeira no colegial. Logo lembrei do dia em que você com ciumes dele jogou um balde de água e depois um saco de farinha sobre a cabeça do "coitado". Você sempre foi muito euforico. Mas além de euforico sempre foi meu protetor; lembra da menina da 7ª série que tentou me envergonhar e me bater? Ainda nao esqueço a maneira com a qual você a tratou e a repreensão que deu nela. Lembro da cara dela de frustrada e do som das palmas louvando a sua atitude.
Inevitavel nossos amigos nao tocarem nesse assunto; sorrimos, choramos e nos lembramos de várias situações da nossa adolescência. Mas engraçado mesmo foi a vez que no Zoológico o Macaco esperto colocou a casca de banana em sua cabeça enquanto você fazia caras e bocas para a foto.
Os anos se passaram e eu ainda lembro de todos os momentos que vivemos juntos, lembro do primeiro beijo no baile de 15 anos, do Ursinho e do perfume que me deu de presente; até hoje está tudo gravado em mim.
Mas um dia você decidiu esquecer tudo isso,e partir, preferiu a nossa amizade ao invés do nosso amor; eu aceitei, disse sim, neguei a tristeza e enquanto te distraía colocando morangos na geladeira enxuguei as lágrimas que ainda hoje insistem em descer.