domingo, 28 de setembro de 2008

Fio da Navalha


Reecontrei o Charlie. E como das outras vezes o ouvi pacientemente.


"Quanto sangue há em meus olhos. E é com o rubro sangue que escorreu dos olhos e molhou os meus dedos que escrevo essas palavras. Minhas veias estão envenenadas, destilam fel. Numa frequencia mortal meu coração bombeia pólvora para o cérebro. Não há balas de festim. Hoje sou a navalha. Da faca sou o corte. Do martelo o esmiuçar da rocha.


Um cálice de ódio me bastou essa noite. Delicadamente o bebi, como quem experimenta o melhor vinho. Saboreei todas suas interfaces, amargas vinganças. Mas é da digestão que falo. É dessa suposta fraqueza que faço a minha força, me desculpem os fracos. Não sou capaz de ferir uma rosa, pois ela não pode ler-me. No vômito repousa os planos de Janeiro e a estação do fim de Setembro.


Novamente, me desculpem os fracos. Hoje é meu o ranger dos dentes. O maquinar do mal. A vingança e a não justiça. Gritos e berros. Para vocês, a morte, pois a mim ela rejeitou.

As boas palavras do meu dicionário fugiram sorrateiramente. Sobrou apenas um...


Fodam-se todos!"



Sabe, Charlie - disse eu - você tirou as palavras dos meus dedos.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Sorrisos e Sementes


Me conta esse seu segredo. Cochichando de canto em meus ouvidos. Esse encanto de trazer-me paz, de criar confiança. Forma genuína dar descanso ao meu coração inseguro.

Já é primavera, meu amor. Planta em mim todas as flores do seu jardim. Perfuma meus bosques com teus aromas de mulher madura. Deixa crescer os frutos viçosos da esperança.

Cria em mim coragem para expôr o que tu inspirastes.

Minha morena, minha menina.

sábado, 20 de setembro de 2008

Toda Espera




O trem chegou e pela primeira eu me vi em seus olhos; ali estava ele, sorrindo e segurando na mãos o endereço da minha casa. Tínhamos combinado que ele me procuraria, mas eu não resisti. Por 15 meses nos correspondemos por cartas. Nelas os versos mais nobres, senso refinado, palavras sensatas e moderadas conforme tinhamos combinado.
Nos retiramos da estação e caminhamos até o ponto de táxi, chovia. Ele cobriu-me com seu sobretudo e colocou um dos braços sobre as minhas costas, senti-me segura. Em nosso passos continha harmonia, nunca andamos juntos, mas era pé após pé em uma estrada que se tornaria longa em um caminho seguro, ele estava comigo. Lembro-me das mãos delicadas sobre os meus ombros, aquecia-me no último dia de inverno pois a primavera se aproximava e as flores já aromatizavam o perfume que faria parte da nossa história.
Eu quis fazer uma surpresa e vesti a camiseta que ele me deu no dia do meu aniversário, ao me ver, ele sorriu com ternura a que jamais tinha presenciado.


Pegamos o táxi, já sentados no banco de trás daquele automóvel amarelo, ele pôde acariciar o meu rosto e beijar os meus olhos; ele tinha me prometido que faria isso. Colocou-me frente a ele e segurando em minha cintura beijou-me os lábios. Foi o beijo mais doce que recebi.
Voltei ao tempo e lembrei que nos meus sonhos eu tinha vivido aquele momento que agora se realizava. Ele finalmente saiu das cartas e dos meus sonhos.
Durante os 15 meses trocamos fotos, presentes, versos e sonhos mas agora estavamos nos preparando para vivemos juntos por toda nossa vida.
Pegando a minha mão, a beijo e colocou em meu dedo anelar um anel feito de palha, no momento não entendi o porque colocava aquele anel em meu dedo mas logo veio a minha memória a carta que ele me escreveu no mês nove. Nela ele dizia que estava passeando no parque vendo a chuva dar vida as flores e os passáros a cantar, sentou-se no banco que ficava embaixo do quiosque e achou umas palhas secas, ali olhou para o céu azul e viu-me dançando na chuva, conteplando a minha dança começou a dar forma a palha e quando caiu em si tinha feito um anel.
Ele nunca tinha me visto, mas tinha certeza que o anel era a medida certa do meu dedo, por isso guardou em seu bolso e esperou para guardar para sempre em meu dedo.

Finalmente o táxi chegou no seu destino. Ele abriu a janela e olhou para o alto, diz que sentiu o perfume da planta que estava na janela no meu andar. Pegando o meu endereço no seu bolso, olhou para os lados, de um lado estava a livraria, do outro o prédio 789 com parede azul. Disse: cheguei!
Convidei-0 a entrar, ele tirou o sobretudo que havia colocado para me proteger e o guardou atrás da porta. Eu o levei até o quarto para que ele pudesse trocar aquela roupa molhada. Enquanto ele se trocava eu preparava o capuchinho de creme que ele adorava. Contou-me por carta.
Ele dirigiu-se até a parede onde eu estava as prateleiras que continha os meus filmes. Fechando os olhos com o dedo indicador escolheu.
O capuchinho estava pronto, ainda chovia. Sentamos no sofá. Coloquei as minhas pernas sobre as dele e conversamos sobre os 15 meses de cartas, prosas e versos. Agora era olhos nos olhos, corpo no corpo e lábios colados. Queríamos assistir o filme que estava em suas mãos, porém a vontade de se olhar e de se ter era tanta que não resistimos e nos entregamos um ao outro. Foi mágico, foi lindo, foi perfeito e sublime. Era o nosso momento, era a nossa história de amor.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Destemperos




Lembro dele na escada no aeroporto, ao me perceber, colocou as malas no chão e acenou com as mãos. No gesto, partia. Pouco a pouco foi sumindo. Restou apenas a esperança e chances infímas do vôo não acontecer. Restou também saudade. Saudade de acontecimentos que se tornaram tão imperceptíveis quando o avião decolou. Saudade do cheiro, do abraço, do beijo inesperado. Lembranças dos olhos sinceros que emanavam felicidade. Olhos atentos quando estava sobre o meu corpo. Lembranças da flor sobre os cachos. Saudade dos momentos que poderíamos ter vivido.

Comigo ficou uma mala que ele havia esquecido propositalmente no fim da escada. O meu coração estava doendo, me lembrando das vezes que me recomendava beijá-lo. Na mala estava a receita do nosso primeiro jantar a luz de velas, a música da nossa valsa e as palavras mais belas que contemplei em toda minha vida.
Nos meus olhos as lágrimas surgiram, lágrimas tristes e de arrependimento por não ter algemado o tempo. Quis falar, mas as palavras não surgiram, minha voz ficou febril e minha garganta congelou. Tornei-me pela primeira vez carente de amor, carente de rimas , prosas e versos. Fechei os olhos, recordei-me da mão suave, desejei que o vôo voltasse e trouxesse de volta o meu amor. Quis atravesar o momento, surgir no aeroporto de destino dele, encontrá-lo, beijá-lo, abraçá-lo. Mas isso não poderia acontecer; ele já tinha ido embora dos meus sonhos, agora partia da minha vida para todo o sempre.

domingo, 14 de setembro de 2008

Momentos


Despertou, era manhã de domingo. Sentiu o clarão dos raios solares, era um dia quente, porém agradável. Estendeu a mão e lá estava ele sorrindo. Sentado em frente à mesinha escrevia mais uma carta de amor. Na verdade a carta de amor era o relato do momento em que se viram. Ambos com a mesma idade na universidade. Ele com os cabelos castanhos claros; ela com fios cacheados e enegrecidos. Foi o momento mais fugaz, surreal, eterno e verdadeiro. Um misto de sentimento invadiu o pátio da universidade. Alegria, tensão, ânsia, paixão; um momento fulgurante.

Levantou-se lhe deu um beijo nos olhos e foi preparar o café. Retornou a cama cantando uma canção de sonhos, trazendo nas mãos uma bandeja contendo um copo de leite, torradas e um lírio. O canto dele era o mais lindo já ouvido; seu olhar penetrante, suas mãos lisas, seu rosto alvo e pele macia, era tudo tão mágico.
O pulsar acelerado, o beijo no ombro, o tocar simples e suave revelava que era um momento único em um mundo particular. Era real.

Abriu o livro que estava próximo e por ironia do destino encontrou o primeiro poema que recebeu da sua pequena. Perdeu-se no tempo e a cada linha encontrava-se no amor. Amor que emanava com o perfume das pétalas secas de rosas perfumadas.
As lágrimas desceram borrando as pequenas letras impressas no papel amarelado com as marcas do tempo. Quieto, concentrado e quase imóvel voltou ao tempo e ouviu a trilha sonora que cantava o amor mais pueril. Submerso no prazer da memória, rendeu-se a doce voz das lembranças. No ritmo de paixão eterna, levantou-se e caminhou em direção a sua pequena. Desejava tocá-la, deslizar-se sobre o seu corpo, sentir toques ardentes de atos inocentes, saborear o beijo mais doce, viver sensações intermináveis.

Acordou. Suspirou com tamanha angústia. Entre gemidos e desesperos ouviu os finos cristais quebrarem-se no chão. Tudo não passou de um sonho. Refém do tempo e do amor não podia gritar o nome de quem tanto ama. Ajoelhou-se em tamanho desespero e desejou ardentemente viver o amor além da imaginação.

sábado, 13 de setembro de 2008

É de lágrima


Acordei, senti-me ridícula. Achei, tive quase certeza que tudo era real e que realmente estava do meu lado, ilude-me. Fui até o canto da sala onde havia apenas uma cama e uma gaveta velha e busquei as cartas, os poemas e as flores que me destes. Quis reviver os momentos que passamos juntos. Junto às saudades mais densas que já partilhei, não poder tocar o teu rosto era a mais excrucitante. Ter os teus braços, tocar os seus dedos, fingir que estava só conversando e te tocar era apenas o que estava ao meu alcance. O seu sorriso, sua atenção para ouvir meus devaneios, seus conselhos, as vezes que inventei desculpas só para ouvir sua voz, tudo isso meninão eram apenas meios de estar mais perto a ti e desvencilhar-me da probabilidade de um dia acordar e ver que tudo não passou de uma ilusão. Ilusão dessas que se tem quando se ama um amor impossível! Estava doendo muito, mas eu precisava reviver os nossos momentos. Procurei algumas fitas que registraram nossos momentos mais singulares. Você filmando nossos encontros; você eternizando o meu sorriso singelo, tudo aconteceu porque você segurava a minha mão. Ter você ao meu lado era ter a certeza de proteção, amor, fidelidade e felicidade.

Observava atentamente os seus dedos a tocar aquelas cordas e ouvia a sua doce voz cantando a música do nosso amor.

Eram as lembranças mais importantes que poderia ter registrado. Decidi tirar a sua foto do porta retrato que estava sobre a gaveta que guardava nossas lembranças, talvez seja mais fácil evitar-te. Você se escondeu do lado de fora do meu coração. Levantei-me, recolhi as lágrimas que deixei cair sobre a carta que me destes e entendi que a única coisa que me resta são elas. As lágrimas.

Lágrimas e talvez uma falsa esperança de ter você além da imaginação e dos sonhos.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Um conto.


Quanta saudade, minha linda. O sono me deixou. Estou embriagado de lembranças. Meu coração são meus dedos pulsando, expelindo, vai-e-vem vaievem. Transpiro suavemente pelos olhos, mas não me ouso enxugar uma gota sequer, deixo que elas percorram a face que um dia quis ser tocada pela suas mãos.

Foi você quem adoçou minhas tardes. Me inundou de versos. Eram das tuas palavras e promessas que eu me alimentava, e eu nao sentia falta de mais nada. Apenas um "Oi" seu era suficiente para eu ter certeza que o destino nos pertencia. Eu lembro, voce pediu para que eu fechasse os olhos para que eu pudesse sentir o seu toque, eu fiz parecendo um bobo. Mais boba foi a brisa que me tocou fazendo-me imaginar que voce transpassou quilômetros de distancia em segundos.

Simples, bonito, pueril e proibido. Foi assim.

Páginas de seu diário. Sua letra em caneta perfumada cor-de-rosa. Seu perfume numa fita de embrulhar presente. Nós bem dados em fitinha marron. Nós que se desfizeram. Seu endereço, convidativo. Lembranças e mais lembranças que lotam o meu guarda-roupas, ocupam o lado esquerdo, dentro de uma caixa azul. De lá saiu nosso passeio na chuva, quando voce saiu do carro ao me ver na beira da estrada. Nossa valsa. Nosso passeio no parque de diversões e o beijo roubado no carrosel. O algodão doce de hortelã, comprado com minhas ultimas moedas.

Nossos rumos são outros, menina-moça, do jeito que eu não quis. Mas caminha que essa estrada é segura, diferente da que nos unia. Improvável pelo mapa.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

... candura


É engraçado como esses tipos de coisas acontecem. Dias de espera, planos e sonhos sonhados para dividir contigo. E agora, como num estalar de dedos, ouço a tua voz do outro lado do telefone. Assim, voce pede para que eu continue falando enquanto voce se esconde entre os travesseiros e lençois da sua cama, engraçado, para que ninguem veja seus olhos brilhando. Eu falo, falo sem parar porque eu sei que voce gosta de ouvir. Ao mesmo tempo em que estou debruçado na janela do quarto e o vento da noite fria toca o meu rosto, eu digo o que voce inspira. Eu não te vejo, mas eu sei que voce sorri de canto de lábios, e até vibra ao ouvir minhas confissões. Eu sei, minha menina, é dificil acreditar, mas minha doçura é sua. Você fingi não ouvir, mas faz isso somente para que eu repita. Eu finjo que acredito e repito. Repito com mais intensidade e com mais ardor, não perco a oportunidade. Sinto o meu sangue ferver e o peito latejar, eu nem te disse, mas eu via a primeira letra do seu nome nas estrelas.

Todas as palavras sumiram e eu torço para que voce não diga aquele "até logo" espremido, tão ruim como o corte da espada. Não faça isso, pois - enquanto fala comigo - eu sei que sua atenção ainda é minha, assim tenho certeza que o momento é nosso, não só meu, e que voce ainda acredita na possibilidade de eu posso te surpreender a qualquer minuto.

Aquele espirro que voce deu em sala de aula e todos olharam para voce enquanto a vergonha lhe cobria. Voce me contou isso e eu achei tão lindo. Todas as suas musicas favoritas, seus poemas, seus filmes e livros, amo quando voce fala deles. Eu te escuto com toda a paciencia do mundo, sondando cada detalhe que revela sua personalidade cativante. Pode falar, minha menina, voce tem toda a minha atenção e carinho. Eu trouxe pra ti algumas musicas, e foto de alguns lugares que me lembram você. Não estranhe o tamanho do album, essa é uma prova que você permeia os meus pensamentos.

Ainda cedo para que você se vá. Nem sequer dobramos a esquina. Fique mais um bom tempo para eu te confiar o coração e te falar aquilo que o meu medo reteu. Ele insiste em permanecer mesmo sabendo que já não há mais espaço.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

É de Sonho...

De repente, eu me vi tocando a sua campainha. Era o número 303.
Eu me lembro. Meu coração batia forte, e minha ansiedade até me
surpreendeu.
Abriu-se a porta. Ah, que alegria! "Oi! Surpreeesa!" – gritei. Sim,
surpresa. Você não estava lá. Sorri, conversei, pensei, fui-me
embora. Foi duro não poder te ver.
Sabes o que mais gosto no mundo dos sonhos? Eles mudam
rapidamente.
Logo após eu vi: eu estava contigo. Andávamos na rua, de mãos
dadas, rindo, brincando. Tudo era muito maravilhoso.
Não permaneci muito tempo no mundo dos sonhos, portanto, não pude
comer a macarronada que disseram-me que você faria.
Perdão, fica para outra vez!
Todos os momentos que passamos juntos foram magníficos. Nossa parada
no sinal, você apertou minha bochecha e brincou feito um menino. Rimos,
brincamos, nos amamos.
É gostoso sentir a sua presença, ainda que no mundo dos sonhos.
Sei que as mais belas coisas, antes de existirem, foram sonhadas, planejadas.
E tu não serás diferente: serás sonhado, e depois existirás.Para você, porque és o sonho.


Foi um sonho da minha irmã gorda. Ela sonhou comigo.

*_*

Rute Almeida