segunda-feira, 14 de abril de 2008

Numimata.

Sábado, 12.04.08.


"Existe algo, Celle, do qual não posso escapar. Dores se espiritualizam, não se cura com paracetamol. Ontem quando li seu email, as coisas ficaram melhores, e depois piores, e melhores... Acredito que essa oscilação acontecerá por um bom tempo. Queria fazer o tempo girar...
Ele parou desde a ilha, e ainda não consegui retomá-lo. Eu só quero meu tempo de volta.
Se preocupar com os sentimentos dos outros dá muito trabalho, é perigoso... Você sempre espera um algo a mais que nunca virá, como quando felizes esperávamos sempre mais da época do banco da alegria, com sorrisos entre os cantos da boca, com a primavera nos ossos...
A vida não deixa de acontecer, amour. E eu com o tempo parado vou perdendo aos poucos minha vida. As rotas se tornam cada vez mais tortuosas e menores, sem chances de saída.
E o quê exatamente não vale a pena?
Quando voltar, sairemos a noite atrás de conversa barata, atrás de gargalhadas e vida.
Você vai juntar uns cds dos Stones, vai filosofar sobre a maldade humana e me convidar pra dançar.
Aí então teremos tudo!
Eu no centro do mundo. Do meu mundo."

sexta-feira, 11 de abril de 2008

A Sangrar

Fotografia: Will Guedes


Tinhamos somente uma tarde, era o impossível palpável. Você aguardava, ansiosa, a minha chegada na estação rodoviária.

Lembro bem da sua respiração ofegante e do seu silêncio eloqüente enquanto me abraçava no meio do saguão de desembarque. Soprei seus cachos negros e lhe beijei suavemente os olhos como tinha prometido. Você somente me olhava como ninguem tinha feito antes, eu lembro de ter me embriagado nos teus olhos, tamanho era o encanto deles. Lembro bem do par de sandálias cor bege, a calça jeans e a camisa branca com a estampa de flores, caia tão bem em você. Nas mãos você segurava as pétalas que lhe enviei por cartas e o broche em formato de uma clave de sol, lembranças das canções em comum. Você era um anjo, eu demorava a crer. Parecias inatingível de tanta doçura. Naquela tarde única eu querio ouvir-te, ver o teu alvo sorriso.

Lembro, quando se punha o sol você fez mimicas para expressar seus sentimentos, eu ria. A sua silhueta, seus cachos que bailavam ao som dos ventos da viração, eu chorava. Lanças-tes teus versos saborosos sobre mim. Ainda ouço a sua voz meiga em sintonia com as estrofes, tamanha peculiaridade a sua, meu bem. Você me mostrou o amor das atitudes e do sentimento, como você era madura.

Eu tive que partir e lembrar que hoje só há cicatrizes.