terça-feira, 30 de junho de 2009

Em Absoluto

*Foto Vanessa Lino*




Ainda sinto o cheiro do quarto em que ficamos, lembro-me do lençol sobre a cama, do telefone e das flores que ele havia colhido para mim. Nós dois deitados com os dedos colados, olhando para o teto em um estado de concentração que nos levou a profundos devaneios. Lembro-me das suas palavras, geralmente ele falava ao pé do ouvido com suavidade tudo o que eu queria ouvir, fazíamos planos em quanto nos despedíamos do sol naquela tarde de sexta feira. Já havíamos caminhados de mãos dadas e nos deliciávamos entre as ruas de paralelepípedo num mundo de cores que dava o tom do nosso amor.
Recordo-me do seu olhar quando me viu na esquina. Ele havia dito que iria me esperar, mas eu não dei certeza se iria; Ele declarou há um tempo atrás o perigo que corríamos em andarmos juntos, muitas vezes a tentação o fazia perder a razão; amava-me sem esperança e agora me amava mil vezes mais ainda.
Bastava-me ouvi-lo a declarar suas intenções para que eu pudesse obedecer cegamente e atendê-lo sem precisar de súplicas. Ao avistá-lo percebi o sorriso mais singelo de todos. Foi então que senti o toque do seu abraço, o seu perfume e minutos depois sentiria o calor de nossos corpos. Ele falava sobre minha ingenuidade e sobre meu sorriso tímido, eu virava o rosto fingindo está tudo bem, porém eu estava em estado de pleno prazer.
Ele levantou-se e retornou arrastando o seu dedo nas cordas do violão meio desafinando com a voz desajeitada e um pouco rouca cantava: "... meus beijos sem os seus não daria, os dias chegariam sem paixão..."
Não consegui pronunciar uma palavra sequer, meus lábios mudos receberam a primeira lágrima de alegria e emoção; meus olhos eram responsáveis por todas as emoções. Havia palavras perdidas em minha mente. A vida seria bonita dali pra frente, agora tínhamos uma música e uma história; tínhamos um ao outro como ardentemente esperávamos.