quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Destemperos




Lembro dele na escada no aeroporto, ao me perceber, colocou as malas no chão e acenou com as mãos. No gesto, partia. Pouco a pouco foi sumindo. Restou apenas a esperança e chances infímas do vôo não acontecer. Restou também saudade. Saudade de acontecimentos que se tornaram tão imperceptíveis quando o avião decolou. Saudade do cheiro, do abraço, do beijo inesperado. Lembranças dos olhos sinceros que emanavam felicidade. Olhos atentos quando estava sobre o meu corpo. Lembranças da flor sobre os cachos. Saudade dos momentos que poderíamos ter vivido.

Comigo ficou uma mala que ele havia esquecido propositalmente no fim da escada. O meu coração estava doendo, me lembrando das vezes que me recomendava beijá-lo. Na mala estava a receita do nosso primeiro jantar a luz de velas, a música da nossa valsa e as palavras mais belas que contemplei em toda minha vida.
Nos meus olhos as lágrimas surgiram, lágrimas tristes e de arrependimento por não ter algemado o tempo. Quis falar, mas as palavras não surgiram, minha voz ficou febril e minha garganta congelou. Tornei-me pela primeira vez carente de amor, carente de rimas , prosas e versos. Fechei os olhos, recordei-me da mão suave, desejei que o vôo voltasse e trouxesse de volta o meu amor. Quis atravesar o momento, surgir no aeroporto de destino dele, encontrá-lo, beijá-lo, abraçá-lo. Mas isso não poderia acontecer; ele já tinha ido embora dos meus sonhos, agora partia da minha vida para todo o sempre.

7 xícaras:

Anônimo disse...

O "pra sempre" sempre acaba. Mas talvez ele não tenha ido pra sempre...

will disse...

Você tem ganhado uma sensibilidade enorme com as palavras, e tem armazenado um boa quantidade de informação e emoções em suas sentenças. Meu "conselho" é que voce tente escrever algo com um final menos fatlista e triste.

Parabéns!

Beijos das bandas de cá!

Will

Débora disse...

(Mas isso não poderia acontecer; ele já tinha ido embora dos meus sonhos, agora partia da minha vida para todo o sempre.)

Foi o "último" post fatalista e triste, não vai ter mais história triste. Outros amores virão. E os próximos post serão com final feliz (assim espero).

Pr. Ricardo "Caco" Pereira disse...

Discordo...
Nãoa cho que tem que mudar os finais. Eles são seus, só seus, são íntimos... Um artista não pode negociar sua arte para satisfazer... Ele não está interessado noutra coisa, senão expressar sua arte, seu ser....
Gostei... sensível, doce, mostálgico...

will disse...

Experimentar outros finais outros esilos não fará com que o artista perca sua essencia, muito pelo contrário, fará com que ele se arrisque e acrescente mais matéria-prima ao se conjunto.

Débora, não falei de não ter mais história triste, quis apenas solicitar um "tempero" diferente aos seus textos. Mas parece que fui mal compreendido.

I'm sorry!

will disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Débora disse...

Meus caros, sem constrangimento.Os finais tristes serão trocados por finais felizes. Não deixem de comentar, é importante! Uhu!