quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Uma dose de canalhice, por favor.

Nem me venha com esse seu charme meia-boca. Coisa de homem que se acha sagaz e esperto, mas é um canalha fantasiado. Finge bem o humor-requintado, dizendo-se divertido e inteligente. Tudo isso ao mesmo tempo. Em pose de psicólogo que pode me definir a partir de uma conversa no bar da esquina. Sou desaforada? Poética? Doce? Ah não! Sou daquelas que voce engana com seus versos decorados de livros de citação. Me diz quem eu sou. Mas sem essas palavras que você aprendeu num rótulo de embalagem qualquer.

Aposto que agora você esteja satisfeito. É, satisfeito. Me fez dependente da sua companhia, numa estratégia egoísta e impiedosa. Soube identificar minhas carências. E não só isso. Supriu todas elas, como convém ao seu estilo. Estilo conquistador barato.Fez com que eu gostasse mais de mim mesma. Dizia que eu tinha inúmeras qualidades que nem eu mesmo conhecia. Eu acreditei. Me via agora como alguém que valia a pena. Me convenceu de talentos só seus. Acreditei novamente. Menina fácil.

Você vinha sorrateiro. Mãos no meu rosto, na minha cintura. Dedos nos meus cabelos. Doces em minha boca. Beijos no meu umbigo. Talento de quem canta a própria poesia. Fingia a paciência dos deuses, ouvindo todas as minhas baboseiras que voce confessava ter algum valor. Me prometia o mar, o céu e seu par de meias se fizesse frio à noite.

Tudo isso foi questão de tempo, e durou enquanto não me entreguei. Quando não fez mais sentido e seu ego já estava cheio de si mesmo você se retirou. Mas o meu orgulho é mais forte e você vai viver na incerteza de ter me feito presa, ou não. Eu não vou te ligar. Não vou mandar mensagens. Vou apenas te difamar, sem você saber, como faço agora.

5 xícaras:

Renato Ziggy disse...

Mulher com raiva é algo bem perigoso. E você captou no ponto exato: o V de VINGANÇA. Ah, mas elas quando estão com raiva não gostam de deixar barato mesmo, maloy.

E eu gosto desse jeito forte e firme com que você tem caminhado em alguns textos, das variações quanto ao tema, na flexibilidade dos "arranjos". Bem apanhado, você. Cada vez melhor. Meu orgulho! Oohohohohoho!

Depois passa no Pesar que tem coisa nova. Bjosmeliga, beibe!

Renato Ziggy disse...

Ah, e muito obrigado pelo comment que você deixou lá no "Pedaço de Céu". Gostei demais! Inté.

Jaya Magalhães disse...

Gostei desse outro lado de você, sendo o nós, do lado de cá.

Não sei como definir canalhice, ainda. [Ainda bem!]. Mas teu texto trouxe a tona os desprazeres de um relacionamento que talvez apenas um tenha cultivado. Se é que ele foi vivenciado, de fato.

Lembrei Cazuza, Will:

"O nosso amor a gente inventa
Pra se distrair
E quando acaba a gente pensa
Que ele nunca existiu..."

Entre vírgulas e reticências, sempre tem um ponto.

E o caso é que tua escrita sempre faz os olhos saltarem para a tela. Ou tuas palavras saltarem da tela. As letras caminham de mãos dadas, enquanto dura a leitura. O ritmo da história aqui, então, foi como se eu presenciasse o monólogo da moça-ferida-dramática-orgulhosa.

"Eu não vou te ligar. Não vou mandar mensagens. Vou apenas te difamar, sem você saber, como faço agora."

No fundo, isso aí acima, é um pedido de casamento, pra quem sabe ler poesia de mulher enfurecida.

Rs.

Te beijo, com carinho.

Renato Ziggy disse...

Cadê o próximo texto? Tô no aguardo faz tempo, Will. ¬¬'

Talita disse...

Poucos homens conseguem escrever sob um prisma feminino da situação... poucos mesmo... eu poderia citar marcelo camelo e chico buarque, mas eles são café com leite.
Vc, Will, é caffe au leit (é um trocadilho escroto, mas de coração)

:)