segunda-feira, 17 de novembro de 2008

As surpresas do coração





-Você tem noção de quanto eu valorizo o fato de você me querer?
Assim ele começou o dia ao telefone.
Eu não esperava que tão cedo pela manhã ele estivesse me ligando; confessou-me que não conseguiu dormir após a minha partida. Disse que por vezes na madrugada foi surpreendido gritando o meu nome e pedindo para que eu ficasse.

Depois de uma longa viagem de avião regada por lágrimas cheguei ao meu destino. Era manhã de primavera e a brisa era fria. Após recolher as minhas bagagens dirigi-me a saída do aeroporto e pedi um táxi. Foi maravilhoso pisar os meus pés naquele solo que tanto desejei estar. O taxista muito cordial e gentil e com um sotaque bastante forte perguntou: Moça, para onde vais? Ponha o teu objecto sobre o carro enquanto eu carrego as tuas malas.
Sentei no banco de couro do táxi branco com listras verde e vermelho de placa KDG 2101.
Ainda com o rosto cansado e abatido tentei esquecer o que me havia ocorrido nas duas noites anteriores aquela linda manhã de sol e brisa fria.
Peguei o envelope dentro da bolsa e fiz saber ao taxista cordial e gentil o meu destino.
Para surpresa minha ele disse-me que não poderia deixar-me na Universidade; comunicou-me que eu teria que ir de trem. Agradeci sua disponibilidade e lhe paguei uma nota de 20 Euros.
Chegando na estação comprei umas fichas e liguei para minha família comunicando que a viagem ocorreu em paz e que eu já estava em solo Português. Procurei o guichê e nas mãos de um moço branco de olhos claros deixei uma nota de 10 Euros.
Peguei o trem, sentei-me junto a janela e ali coloquei-me a olhar a paisagem verde e repleta de flores coloridas. Em um espaço de tempo de 1:30 o trem chegou a estação e eu pude ir caminhando até a Universidade. Cheguei me apresentei e logo me entregaram as chaves do meu quarto.
Subi as escadas cheia de malas e bolsas, meu travesseiro debaixo do braço esquerdo e meu urso de pelúcia carregado pelas orelhas na mão direita. Cheguei ao corredor F e finalmente encontrei a porta com o meu nome.
Não reparei na decoração, não fui ver como era o toilet, apenas sentei-me na cama com lençóis lisos e bem perfumados e agachada retirei o porta retrato que estava na mala azul. Olhei para o lado e vi uma mesinha onde deixei o porta retrato. Coloquei o meu corpo sobre a cama e despertei naquela manhã com o telefone a tocar.
Até agora eu não sei como ele havia conseguido o telefone do meu quarto na Universidade, mas do outro lado da linha estava o meu grande amor.
Não acreditei quando ouvi a sua voz doce. Na verdade foi difícil reconhecer, pois estava trêmula e a ligação não estava das melhores. Mas eu pude ouvir com toda a clareza as palavras que ele me disse.
Primeiro ele pediu que eu não o interrompesse e disse-me que estava arrependido de ter-me deixado partir. Confessou-me que não havia dormido e que por vezes na madrugada despertava falando o meu nome.
- É, aquele beijo... Ele... Não...Não... Ele não me saí dos lábios! Não consigo para de pensar que você foi embora e que agora não posso mais recostar minha cabeça sobre seu colo e... e....
Você partiu há 02 dias e eu sinto saudade do seu perfume, da sua voz, do seu cuidado, das suas ligações. Eu... eu me arrependo. Não devia ter permitido que partisse. Deveria ter pedido que ficasse. Deveria ter acreditado no que eu sinto. Mas é que... é que... eu fiquei confuso!
Eu nunca fui de muitos amores não consegui então compreender a importância que você tinha para mim e agora que estás tão distante não sabes o quanto eu valorizo o fato de você me querer.
Eu errei. Deveria ser mais decidido, ter fé e ver coragem no amor. Mas eu me tranquei no meu mundo e não me permitir ser feliz. Achei que aceitar o seu amor fosse estragar a nossa amizade, achei que não poderia dar certo nós dois.

- Ei, moço.
- Não, não, por favor, deixe-me falar tudo que eu sinto.
O meu coração chora e geme por saber que você não estará às 7:05 da manhã esperando a condução; não me conformo com o fato de não receber suas ligações para saber como eu estou. E eu que... eu que... que por vezes não retribuía sua atenção, seu carinho, sua preocupação. Mas eu descobri que eu te amava sim do meu jeito, mas eu te amava. Mesmo que eu não soubesse como demonstrar ou tivesse medo eu te queria, te desejava.
Rompia dias e dias querendo tocar-te, beijar-te e te convidar para ser minha, mas eu não conseguia sair do palco das imaginações e partir para a novela da vida real.
E agora eu sinto o seu perfume toda vez que o vento sopra, ouço a sua voz e ando pelas ruas querendo te encontrar. Chego a correr para ver se não é você que está pegando a condução e sento-me na praça para esperar-te. Mas você não aparece você não vem.
Meu amor, sim, meu amor. Sei que poderia ter te chamado assim antes, mas agora eu choro a sua partida e não me conformo com sua ausência diária no meu paladar. Queria poder voltar atrás e te pedir para ficar. Melhor meu amor, queria ter voltado atrás nos primeiros dias em que senti que poderia ser seu e permitir nosso romance.
Sabe, ontem quando eu arrumava meu material vi a sua foto cair de dentro do livro que me destes; chorei, e ali sobre a foto deixei minhas lágrimas e a marca do meu beijo. Abracei a foto e dormi sobre ela. De repente eu me vi ao seu lado em um lindo lugar, você vestia uma bermuda xadrez e uma blusa branca e me olhava com ternura e amor. Mas você foi ficando distante, distante e balbuciando dizia levemente: eu te amo , eu te amo...
Então acordei e decidi correr em busca da felicidade, em busca do amor, em busca de você.
Espero não ter chegado tarde para te dizer que você é o amor que eu quero para a vida inteira. Volta, deixe-me te amar e ser seu. Deixe-me te ter e te fazer minha.

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