- Quero falar com você
- Outra vez?
- É esse o seu problema. Você nunca quer me ouvir.
- Você sempre toca nesse tipo de assunto.
- Se você nunca evitasse falar sobre isso já tínhamos encerrado.
- É você tem razão - Disse ele com desprezo.
- Eu sempre tenho razão.
- Essa sua prepotência me causa náuseas.
- Você sabe que dia é hoje?
- É claro que eu sei.
Ela arregalou os olhos achando que ele se lembraria do dia em que se conheceram; mas sua esperança durou pouco. Logo ele respondeu:
- Hoje é segunda. Ontem foi Domingo e amanhã será terça. É óbvio meu bem - Falou em sua ironia particular.
- Impressionante! Eu já deveria ter me acostumado com isso. Você nunca se lembra de nada! Não lembra de me elogiar, de me ligar... - Ele a interrompeu.
- Hey, Hey. Vamos com calma; hoje mesmo eu te liguei - Ela o interrompeu e apontando o dedo freneticamente falou:
- Mas você não ligou para saber de mim. Aliás, é sempre assim - Engolindo seco, continuou...
Você liga para sua mãe, para seu pai, seu irmão e amigos e no fim do dia quando eu te ligo está sempre ocupado.
- Você nunca está satisfeita. Reclama se eu tenho ou não ciúmes. Na verdade - Pausou e deu com os ombros - você sempre foi exigente de mais.
- Então você acha que sou exigente só porque quero que se lembre da data em que completamos quatro anos?
Então depois da primeira lágrima, veio o silêncio. Em silêncio, ela se dirigiu ao quarto bem devagar, com pose de quem vence uma guerra. Assustado ele disse:
- Desistiu?... Não quer mais falar?
Ela deu com os ombros e falou com ar de desdém:
- Sobre o que estavámos falando memso? - Sorriu de canto de boca.
Ele pensou consigo: Só por que eu esqueci a data? Será que há algo mais?
- Minha menina, volte aqui. - Ele a chamou carinhosamente.
Ela fingiu não ouvir.
Foi nesse momento que ele se sentiu ameaçado. Pôs os óculos sobre a mesa. Percebeu que esse jogo não era só seu. E que agora o controle da situação não lhe pertencia. Pela primeira vez ela não foi previsível.
Acostumado com as lamentações e com os pedidos de desculpas, provou do gosto amargo do silêncio e da indiferença. Imaginou-se sem ela. Sem sua dedicação. Seu interesse. E suas exigências mascaradas de amor. Então fez o que não lhe era comum. Reconheceu seu medo da dependência e decidiu terminar com o jogo que ele mesmo começou.
4 xícaras:
Eh, nem sempre é bom sermos tão cheios de nós mesmos, porque podemos acabar caindo do pedestal um dia. Boa reflexão! Abraços!
Há abismos que separam pessoas. E saber retratá-los, como você o fez, é complicado e delicado.
Isso aqui ficou muito bom:
"E suas exigências mascarada de amor. Então fez o que não lhe era comum. Reconheceu seu medo da dependência e decidiu terminar com o jogo que ele mesmo começou."
Lembrei da música: existem provas de amor, não existe o amor.
Abraços e aplausos!
Aprendemos o valor das pessoas quando percebemos o risco de perdê-las...
Débora, obrigada por aquelas palavras lindas no meu blog, viu?
Eu também vou querer um livro seu.
(Bjs!)
excelente texto!!! *-*
já vi esse filme.
mas a mocinha quase morre no final.
bleh!
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