domingo, 21 de dezembro de 2008

Caronas Numa Viagem sem Rumo


* Apenas Uma história *


- O trecho que sai da cidadela pés-rosados partindo em direção ao oeste do país, passando por outros dois estados litorâneos está em ótimas condições.

Era o que dizia uma estação de rádio AM. Ouvi isso enquanto eu saia das redondezas da minha cidade e tentava sintonizar uma boa rádio para poder ouvir durante a viagem.
Minha única mala estava no branco traseiro.

Sentado no banco ao lado estava Charlie, com a cara para fora da janela. Era a nossa primeira viagem juntos. Sobre o porta luvas estava o mapa que iria me guiar. Eu nunca tinha saído do país antes, e aquele caminho era desconhecido. Na rádio tocava um jazz contemporâneo, uma música que eu conhecia.
Não sabia ao certo o quanto duraria a viagem, por isso estava atencioso para não passar sem perceber da pousada.
Desconhecia, mas a partir daquela noite minha viagem tomava outro rumo e o Charlie iria para o banco de trás.
Eu tinha decidido viajar meio que sem destino, comigo estava o que eu preciso ar nos meus pulmões e uma câmera fotográfica.
Era noite e ao longe pude notar as luzes da cidade mais próxima.
Ali eu passaria a noite. Dirigi-me à recepção e recolhi as chaves do apartamento 21.
Pareceu-me que por ali não passava uma pessoa há meses. O colchão meio empoeirado, a tv era antiga e com uma sintonia baixíssima se podia notar o descaso, mas estava agradável para quem havia viajado o dia inteiro e ali passaria apenas poucas horas.
Com o Charlie ao meu lado adormeci e despertei ao som do chuveiro do quarto ao lado.
Tentei ficar por ali mais um pouco, mas havia alguém que cantava umas músicas que me incomodavam bastante; sem opções levantei e fui tomar o café da manhã.
Enquanto eu colocava o Charlie sentado ao meu lado e imóvel, fui interrompido por uma voz meiga e suave que me dava Bom Dia e pedia licença para assentar-se comigo a mesa. Com a cabeça baixa ergui os olhos e fiz um sinal de aprovação. Calado como sempre fui, não por natureza, mas para evitar o falar exagerado, foi o máximo que pude fazer. Ela perguntou se incomodava que estivesse ali, afinal eu não tinha dado uma palavra.
Eu disse que não tinha problema, só estava com um pouco de sono pois havia sido acordado ao som de uma música sertaneja em uma voz muito desafinada.
Ela sorriu de maneira singela, e baixando a cabeça disse que era ela que estava cantando no quarto ao lado. Em tamanho constrangimento perdi-me nos traços dos seu rosto, nunca antes presenciei um sorriso tão lindo.
A partir dali travamos uma conversa agradável, mas como de costume eu apenas balançava a cabeça. Ela contou-me que tinha saído em uma viagem sem rumo e que pretendia parar nas três próximas pousadas. Perguntou o meu destino e eu disse que eu era um viajante sem rumo. Pretendia dar a volta no país.
Ela sugeriu que fôssemos juntos até a próxima parada.
Voltamos cada um para seu quarto, pegamos nossas malas e seguimos viagem.
Estavamos dispostos a seguir em uma viagem sem rumo com aventuras e pessoas desconhecidas. Não tínhamos nenhuma certeza naquele momento; mas decidimos seguir em frente.
O Charlie, meu companheiro para grandes aventuras passou para o banco de trás e aquela moça de cabelos vermelhos, vestido com flores e chinelo rasteiro sentou-se ao meu lado.
Começamos a conversar sobre coisas que hoje nem lembro mais; ela pegou a sua bolsa um tanto quanto gasta e retirou umas fitas; eu não tinha noção que ela possuía aquelas raridades. Músicas boas de se ouvir.
Naquele momento eu que geralmente me calo por opção com a voz meio engasgada comecei a cantar aquela canção; ela me olhou com um olhar doce, balançou a cabeça em sinal que estava gostando do que estava ouvindo e começou a cantar também.
Foi como se tudo estivesse sumindo ao meu redor, e ali apenas eu, ela e aquela canção.

1 xícaras:

Anônimo disse...

Belo texto!