quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Romance

ROMANCE: Isso que parece tão simplório olhado de fora, dava-lhe um senso de plenitude e poder que nunca mais conheceria. Não precisava de mais nada.
"Nem Deus pode tirar isso de mim" - pensava.
Um inocente beijo na grama que transformou-se em céu. Ainda estou transfigurada por essa intimidade. Por mais experiências que tive como mulher, o momento não se repetirá, e dificilmente se apagará, nunca mais haverá uma primeira vez, nunca mais a mesma candura de acreditar que tudo aquilo era eterno. Foram-se os amores que tive ou me tiveram: partiram num cortejo silencioso e iluminado. O tempo me ensinou a não acreditar demais na morte nem desistir da vida: cultivo alegrias numa cidade cor de laranja onde estamos eu, os sonhos idos, os velhos amores e seus segredos.
- Você me prometeu falar de amor.
- Por mim esse assunto nem teria surgido. Amar é perigoso.
- Sei disso porque já amei uma vez.
- Hoje concluí que só devemos amar aqueles que nos querem por perto. Não vale a pena viver um amor não correspondido... Você me acha muito dura, não é verdade?
- Pelo contrário. Nunca te vi tão humana quanto te vejo agora.

"Encerramos o assunto" - pensei. Agora é melhor, porque comecei a sentir as tempestades que os ventos do amor trazem consigo. O peso da ventania que bate com a força de um tapa.
Encerramos o assunto, enquanto ficamos bebendo por muito tempo, sem conversar coisas sérias. Comentamos sobre algumas casas, alguns passantes, as flores do parque, falamos do futuro, do passado e não tocamos no presente.
Até ficarmos em silêncio.

- Você está distraída.

Sim, eu estava distraída. Minha mente estava voando. Eu já estive naquele mesmo lugar com alguém que me deixou o coração em paz, com um alguém que vivi aquele mesmo momento sem o medo de perder no dia seguinte. Foi quando senti o tempo passando devagar, foi quando descobri que eu poderia ficar ali em silêncio - já que teríamos o resto da vida para conversar.

"Estamos em silêncio e isso é um sinal"

Pela primeira vez estamos em silêncio, embora eu só tenha percebido isso agora. Estamos em silêncio de verdade, não de uma forma constrangedora. Não é o silêncio do coração com medo, é um silêncio que fala e que me diz que não precisamos ficar explicando coisas um para o outro.

Eu precisava de um romance possível.
Deixei-me levar.

2 xícaras:

will disse...

"Pela primeira vez estamos em silêncio, embora eu só tenha percebido isso agora. Estamos em silêncio de verdade, não de uma forma constrangedora. Não é o silêncio do coração com medo, é um silêncio que fala e que me diz que não precisamos ficar explicando coisas um para o outro."

Na verdade, isso é o que eu tento dizer várias vezes, e não consigo. Voce fez. Genial!

Não vamos falar de amor, ok?

Beijos nocê!

Débora disse...

"Por mais experiências que tive como mulher, o momento não se repetirá, e dificilmente se apagará, nunca mais haverá uma primeira vez, nunca mais a mesma candura de acreditar que tudo aquilo era eterno. Foram-se os amores que tive ou me tiveram: partiram num cortejo silencioso e iluminado. O tempo me ensinou a não acreditar demais na morte nem desistir da vida: cultivo alegrias numa cidade cor de laranja onde estamos eu, os sonhos idos, os velhos amores e seus segredos."

Essa parte no texto me fez entender que o amor que eu senti nao volta e que a mesma intensidade que o vivi nao vai se repetir com outra pessoa. O tempo me faz acreditar que as coisas podem mudar e as circunstâncias possam "conspirar" ao meu favor, mas como você mesmo disse: "estamos eu, os sonhos idos, os velhos amores e seus segredos."

Ótimo texto pequena notável.