Joaquim e Carminha viveram um romance. Daquele que causa uma inveja terrível. Ela era moça acostumada a sair para lugares bonitos com os rapazes que tinha conhecido. Todos eles tinham dinheiro. Ele, porém, vivia com os bolsos cheios de moedas conseguidas nas feira de sábado. Joaquim amava Carminha. E Carminha amava Joaquim.
Ele costumava visitar a moça à noite. Vinha de bicicleta. Três quilômetros. A bicicleta era daquelas barra circular vermelha. Tinha uma garupa atrás. Era onde levava Carminha.
Carminha andava com um almofadinha nas mãos. Era pra não doer o bumbum na garupa da bicicleta. Os parelelepipedos eram castigantes. Ela costumava abraçar Joaquim pela cintura e quase sempre rescotava a cabeça nas suas costas e fechava os olhos enquanto ele pedalava. Quando era ladeira eles desciam. É que Joaquim não tinha toda essa força nas pernas.
Como eles conversavam! Sobre tudo que é coisa. Riam. Ficavam sérios. Faziam gestos. Se apertavam e se mordiam. Joaquim amava levar Carminha na sorveteria. E todas as vezes, no caminho, arrancava flores enquanto pedalava e na hora de partir entregava à Carminha. Era sempre assim, cheio de surpresinhas. O amor lhe proporcionava essa criatividade. Foram ao parque e ao circo quando esses estiveram na cidade. Joaquim lhe entregava bilhetes. Lia versos de sua autoria. Beijava-lhe as mãos, as orelhas, os olhos. Mexia em seus cabelos. E fazia planos para o futuro.
Carminha lhe falou de medos e receios. Da desconfiança na felicidade e da falta de esperança. Joaquim foi paciente até que ela percebesse a sinceridade do seu sentimento. Esperou até que ela se entregasse e se permitisse amá-lo integralmente.
Carminha quis conhecer a fazenda do pai de Joaquim. Joaquim a levou. Ele tinha planejado levá-la ao lugar aonde poderiam ver o pôr-d0-sol claramente. Levou também o violão para tocar uma música de sua autoria.
O dia já ia virando e Joaquim apoiou o violão nas pernas. Sentandos na grama, debaixo da mangueira, Carminha inclinava a cabeça nos ombros dele. Joaquim falou baixo:
- Presta bem atenção que eu vô cantá uma música procê.
- Viu. - Foi o que Carminha respondeu com voz baixa.
Joaquim deu o primeiro acorde enquanto o céu ia avermelhando. E cantou:
"Já sonhei nossa roda gigante esconde -esconde em você
Já avisei todo ser da noite que eu vou cuidar de você
Vou contar historias dos dias depois de amanhã
Vou guardar tuas cores, tua primeira blusa de lã
Menina vou te guardar comigo
Menina vou te guardar comigo
Teu sorriso eu vou deixar na estante para eu ter um dia melhor
Tua água eu vou buscar na fonte teu passo eu já sei de cor
Sei nosso primeiro abraço, sei nossa primeira dor
Sei tua manhã mais bonita, nossa casinha de cobertor
Menina vou te casar comigo
Menina vou te casar comigo...Vou te guardar comigo
Sou teu gesto lindo
Sou teus pés
Sou quem olha você dormindo
O Menina guardo você comigo
Menina guardo você comigo
Nosso canto será o mais bonito Mi Fá Sol Lápis de cor
Nossa pausa será o nosso grito que a natureza mostrou
A gente é tão pequeno, gigante no coração
Quando a noite traz sereno a gente dorme num só colchão
Menina vou te sonhar comigo
Menina vou te sonhar comigo
Sou teu gesto lindo
Sou teus pés
Sou quem olha você dormindo
O Menina guardo você comigo
Menina guardo você comigo" *
O sol não se pôs só aquele dia para eles dois juntos. Se existe um "pra sempre", eles viveram em garupas de bicicleta, sorveterias, flores e ruas de paralelepipedo.
*Letra - O Teatro Mágico
4 xícaras:
Quero que o sol também seja testemunha de meu romance, assim como foi desse lindo casal.
Vou passar na fazenda e avisar ao Joaquim para dar borboletas e estrelas de presente à Carminha. Ela vai gostar!
Beijos e canções!
Minha música favorita do teatro. Embora eu também goste de "A Bailarina e o soldado de chumbo".
Linda história.
Will,
Primeiro: oitudobom? Rs.
É com prazer que venho ingressar no mundo das tuas palavras. Desconhecia. Agora, abracei-as todas. E o afago foi tamanho, que eu diria que até música aconteceu.
Que texto mais gostoso de se ler! E você misturou TM. Essa música. O ambiente. O amor narrado. Ah, eu enxerguei tudo tão claramente, Will.
"O sol não se pôs só aquele dia para eles dois juntos. Se existe um "pra sempre", eles viveram em garupas de bicicleta, sorveterias, flores e ruas de paralelepipedo."
É justamente aí, na simplicidade, num gesto doce, que o céu pinta arco-íris e que as borboletas, distraídas, ousam valsar ao redor desses corações. Almas em par, buscando singularizarem-se.
Gostei. Bastante.
Beijocas.
Cara, belo texto! Dá pra sentirmos que estamos lá naquela cidadezinha observando o amor do casal.
Aproveitando... Feliz ano novo, mano Will.
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