domingo, 30 de março de 2008

Qualquer Vácuo


Caixa de segredos
Cofre de amuletos

Tristeza, angústia e melancolia
Amor, solidão e vida


Decepção, dor e arrependimento
Responsabilidade e tormento


Canção das intençõess sufocadas,
silêncio do alto grito.


sexta-feira, 28 de março de 2008

Paquetá

Ah, se eu aguento ouvir

Outro não, quem sabe um talvez

Ou um sim

Eu mereço enfim.


É que eu já sei de cor

Qual o quê dos quais

E poréns, dos afins, pense bem

Ou não pense assim


Eu zanguei numa cisma, eu sei

Tanta birra é pirraça e só

Que essa teima era eu não vi
E hesitei, fiz o pior

Do amor amuleto que eu fiz

Deixei por aíDescuidei dele, quase largue

iQuis deixar cair


(tsc tsc)


Mas não deixei

Peguei no ar

E hoje eu sei

Sem você sou pá furada.


Ai! não me deixe aqui

O sereno dóiEu sei, me perdi

Mas ei, só me acho em ti.


Que desfeita, intriga, uó!

Um capricho essa rixa; e mal

Do imbróglio que quiproquó

E disso, bem, fez-se esse nó.


E desse engodo eu vi luzir

De longe o teu farol

Minha ilha perdida é aí

O meu pôr do sol.




Los Hermanos

Composição: Rodrigo Amarante

quinta-feira, 20 de março de 2008

Das Palavras Escritas.


É sobre elas que empenho esse tempo.

Quando me disponhoa ler estou sempre defronte seus poderes. Outros blogs, outras vidas, outros amores. Sinto arfar o peito quando meus olhos encontram uma palavra bem escolhida, bem adequada àquele contexto. Uma simples palavra que trás consigo tão grande número de significados e interpretações. As metáforas, o abstrato, o infinito, o subjetivo, o ideal. Me torno alvo de todos.

Descarrega-se em mim boa dose de adrenalina, minh'alma entra em ebulição, os olhos brilham. Me isolo do meio físico. As letras dotam-se de cores e sabores. Me empenho em discerni-las. Com paciencia e dedicação permito que elas sejam mastigadas e digeridas antes de qualquer diagnóstico prematuro. A máquina da imaginação lubrifica-se e funciona com perfeição e obtem um rendimento quase ideal. Já não estou mais sentado nessa cadeira, me vejo nos contos, nos diálogos, nos conflitos pessoais, nas tragédias. Admiro a criatividade do artesão que com arduo trabalho se fez inteligivel.

O autor torna-se audível quando me identifico com sua obra. Cativa-me ainda mais. Vejo-o frente a frente, falando com particularidade sobre mim, mesmo não me conhecendo. Sou influenciado, motivado e inspirado por aquela obra.

Saber partir de pequenos casos reais e dotá-los de tamanha engenhosidade. Iniciar somente com a criatividade e expressar fielmente cada gota de pensamento. Peneirar e trasmitir o essencial. Esse é o universo daqueles que se empenham com as palavras; ver o que a maioria não viu, transmitir com elegância e simplicidade tesouros da alma.

Meus reconhecimentos aos artesões de robusta obra-prima.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Do lado de dentro.


Aqui é um mundo de quatro paredes, eu resido nele. Lá fora, um mundo sem pilares de restrições. Correm os seres humanos buscando desenfreadamente a realização de seus desejos. Por vezes atropelam os outros seres humanos e a si mesmos. Eu prefiro aqui, meu particular, onde calculo, escrevo e penso. Eles parecem bem mais sagazes, criativos e inteligentes que eu. São gigantes em forma de gente. Me amedrontam os seus planos.

Você quem lê esse aviso preso à minha porta, diga aos outros que eu pretendo permanecer aqui, e que não ousem sequer bater.

terça-feira, 18 de março de 2008

Um Ontem.

Agora eu sinto frio
Longe do afago teu
Desolado com a ausência de sua voz meiga
Sem seus conselhos unilaterais
Inexistente é o amanhã
Só há o amargo pretérito
Conduzido por canções em "lá menor"
Com desatinos de amor
Embriaguez nostalgica
Lembrança perfumada
Tristeza laica

Põe-se o Sol

Eu o assisto agonizante

Enquanto a dor da saudade me atravessa o peito

sábado, 15 de março de 2008

Fluido-Emoções

Escorreu pela minha face
Lançou-se em submissão à gravidade
Na melhor forma aerodinâmica
Inundou o chão gota de lágrima

Responsável por extraí-la
Fusão empírica de sentimentos
Borbulhante em grande escala
Sem formas nem conceitos

sexta-feira, 14 de março de 2008

Volúpias


Em suas viagens noturnas de ônibus coletivo, Telma vislumbra o horizonte. Sabe em seu íntimo que, em um mundo onde se costuma focar o próprio umbigo, olhar para o céu constitui-se um dom. Contempla as poucas estrelas que, ousadas, romperam a grande espessura de gases poluentes. Seus pensamentos são quase audíveis aos ouvidos alheios.

Ela pensa alto.

Pensa no que considera volúpia aos seus olhos. Julga-se bem-aventurada por apegar-se pouco às pessoas. Também por saber ser diplomática, carismática e simpática com os que a cercam. É sempre desconfiada, vê segundas e terceiras intenções onde, muitas vezes, não há. Todavia essas atitudes não lhe furtam a felicidade. Sente-se menos responsável pelos sentimentos alheios.

Dona de um perfeccionismo absurdo. Amante de coisas velhas. Vive preocupada com seus afazeres, por vezes demora a pegar no sono. Sempre observa atentamente as pessoas, em questão de minutos consegue propôr uma definição para o ser observado. Unhas, dentes, cabelso, mãos, pés, palavras, traços. Nada foge dos seus olhos. Sempre que possível a ironia está presente em suas palavras.

A vida de Telma é sempre segredo aos olhos das suas colegas. Ao falar de si oculta fatos. Ouve atentamente pedido de conselhos, histórias e rotinas alheias. Mas não ouse lhe perguntar o que ela tem feito, ela lhe responderá com a frase mais curta possível, senão com o silêncio. A sinceridade nunca se ausenta, sabe usar do eufemismo e da “grosseria” em tempos oportunos.

Não pense você que Telma é infeliz, repito. Eu a vejo sempre recostar a cabeça na janela do ônibus e sorri. Pensa na sua família, e em alguns amigos sinceros que tem.

Em meio a esses pensamentos deixou escapar que não foi assim a vida toda, mas que mudou por opção, decidiu ser melhor agir desse modo. Encontrou prazer.

Telma projetava mudanças em sua forma de agir, mas percebeu que eu conseguia ouvir os sussurros dos seus pensamentos. Calou-se prontamente.

Ela me tentou a tornar-me seu amigo e acompanhar cada passo para novas “volúpias”. Prometi a mim mesmo não julgar, sem sua permissão, suas atitudes.

Seres humanos e suas mudanças, vim assisti-los.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Alcoólicas.

É crua a vida. Alça de tripa e metal.


Nela despenco: pedra mórula ferida.



É crua e dura a vida. Como um naco de víbora.



Como-a no livor da língua



Tinta, lavo-te os antebraços, Vida, lavo-me



No estreito-pouco



Do meu corpo, lavo as vigas dos ossos, minha vida



Tua unha plúmbea, meu casaco rosso.



E perambulamos de coturno pela rua



Rubras, góticas, altas de corpo e copos.



A vida é crua. Faminta como o bico dos corvos.



E pode ser tão generosa e mítica: arroio, lágrima



Olho d'água, bebida. A Vida é líquida.






(Hilda Hilst)

sexta-feira, 7 de março de 2008

Ciclos de Mudanças.


De modo fraudulento, o pensamento que eu podia ter sido um bom par, toma-me o ar.

É por fazer estadia nesse grande [in]cômodo do ressentimento que as lágrimas não se sobrepõem a mim. E assim lembro que não fui sensível às suas quando reclamastes da minha falta de atenção e indiferença.

Faltou-me a dedicação. Faltaram-se os meus telefonemas, as mãos escorrendo pela sua face, desenhando seus traços suaves e coloridos enquanto beijava-lhe os lábios carnudos. Estiveram ausente os dedos que deveriam se enlaçar nos seus cachos negros tão bem feitos e perfumados, que se deitavam lânguidos sobre seus ombros largos desejosos por um afago.

Eram tristes as noites quando nos sentávamos naquele banco sob a lâmpada única daquele poste. Não nos separava somente a distância das extremidades do assento, mas um mundo tedioso imposto por mim. Quando questionado sobre meu dia resumia o máximo que podia e deixava o diagnóstico sobre aquele chão negro debaixo dos nossos pés.

- O dia foi bom. – Murmurava quase inaudível.

Ela esperava o retorno da pergunta. Meus lábios nem sequer se moviam. O relógio eu olhava sem parar, queria ir logo embora, sempre.

Ela sempre esperou de volta um moço que lhe chamasse para uma tarde no parque, no cinema, no pátio ou em “em lugar algum”, contanto que estivessem juntos. Não aconteceu. Não vieram as músicas dedicadas nem palavras dóceis. Não vieram as piadas sem graça, mas que gerava tão grandes gargalhadas. Não houve silêncios saborosos, nem menção de [olhar] inebriante.

Pude descrever o que faltou, pois abri as janelas. Eu não passei do ponto.

quinta-feira, 6 de março de 2008


Tales quer ser grande na vida, mas tem medo de passar pela porta.

Tales quer ser grande na vida, mas sempre espera com as mãos estendidas ao céu.

Tales quer ser grande na vida, mas tem nojo de seu próprio suor.

Ali em seu sofá, Tales cria e recria seu mundo sem saber diferenciar sonhos da realidade.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Leis que DEVERIAM ser criadas no Brasil.


Coisa útil que é bom, esse meu governo brasileiro não cria! É uma sistema legislativo tão acéfalo... Ficam criando leis que permitem impostos e sacanagens. Meu TOP 5 de agora são de LEIS QUE DEVERIAM SER CRIADAS NO BRASIL.


1. A PROIBIÇÃO de escadas.

(ter de ficar subindo e descendo escada faz mal pro meu sedentarismo)

2. Obrigar a volta do Programa Lado B.

(porque só nessa época era legal assistir a MTV.)

3. Toda cidadã ferrada que rale loucamente numa universidade tem direito a um sapato , um perfume importado e uma peça de roupa da Dolce & Gabanna por mês.

(Essencial.)

4. Abrir mais salas de cinema culturais, para a exibição de filmes... hummm... digamos... "alternativos".

(onde eu assisti Trainspotting?)

5. E pra terminar: o som do Libertines rolando sempre.

(porque dançar ao som de "boys in the band" e uma roupa de aluminio enrrolada no "corpitcho" é um luxo.)

sábado, 1 de março de 2008

Cartas.

28 de fevereiro de 2008

Olá querida Marcelle!
Sim! As coisas por aqui estão indo bem!
(essa é uma excelente forma de se começar a escrever)
Respondendo logo a sua pergunta, Ricardo e eu vamos bem. Posso dizer que hoje experimento algo que os romancistas chamam de FELICIDADE. Sabe aquela sensação de se estar num universo congelado? Me parecem ser boas notícias.
Na faculdade também está indo tudo bem. Estou tendo aulas em várias salas diferentes e isso proporciona novos ares. Amigos ainda não! Você sabe como é o meu tempo pra essas coisas. Mas o pessoal tem se mostrado muito simpático e receptivo. Também estou tendo aulas de Latim. Uma merda! A professora é chata, a sala parece um formigueiro, e a aula não é nada do que eu imaginava ser.
Bem, na verdade até outro dia eu me sentia fraca, indefesa, insegura e cansada. Merdas acontecem! Merdas aparecem! Mas nada melhor do que o tempo e seu super-papel higiênico pra limpar tudo isso da minha vida. Foi um período em que tentaram me jogar uma macumba psicológica, entende?
Meus planos para o futuro eu sinceramente não sei lhe dizer. Por hora preciso ganhar dinheiro e reconquistar aquela velha sensação de liberdade que eu tinha quando nós sentadas no banco da alegria na escola, tentávamos dominar o mundo.
Esses acessos saudosistas talvez estejam acontecendo porque estou atrasada e velha aos 21 anos de idade.
Existe felicidade, mas não existe felicidade plena! Felicidade plena é juntar a felicidade do passado, presente e futuro e isso não dá certo pelas leis da física, da astrologia, pela lei divina ou qualquer que seja. É impossivel! Mas a gente se esforça, né não?
Vou terminar dizendo que as coisas vão indo bem. Não quero pensar que as coisas mudam.
Eu te amo.
E amo a lembrança de tudo o que vivemos!
Beijo.


29 de fevereiro de 2008

Talitinha!!!!
As coisas acontecem Talitinha...Acontecem quando a gente permite que elas aconteçam. As coisas por aqui estão melhorando, especialmente porque eu decidi sobre algumas coisas na minha vida.Decidi algumas coisas a respeito da minha vida profissional. Vc sabe q eu larquei a psicologia. Principalmente num país onde casamentos, crises existenciais e tragédias gregas se resolvem depois de dois ou três goles de um bom conhaque (eu bem sei disso)... pois bem, decidi que vou abrir algum tipo de comercio. Não é legal? Virar uma micro-empresária?Sobre a minha saudade das nossas tentativas de dominar o mundo sentandas no banco da escola. Sim! eu sinto falta de tudo isso.Tivemos aula com a máfia. Lembra? E eu não acredito que ainda sim, perdi seis meses com a psicologia... essas coisas são mesmo fodas. =[eu deveria mesmo era ter assistido mais aulas da máfia... nem dulcinéia nos pegava. Tentativas e mais tentativas. Éramos mais espertas naquela época.
Olho para os meninos com olhos que eu não olhava quando nos encontravamos para mais uma aula de máfia.... Hoje eles fumam maconha, ouvem o que eles acham que é rock and roll, mas tudo mudou... na realidade eles estão tão normais, tão anti-pop... arffffMas é isso! Mando noticias.Vc não está sozinha, Talitinha. Vamos chutar essa macumba psicologica e viver.Enquanto isso penso em como seguir minha veia underground. Talvez eu comece a vender incensos por aí.
Um Beijo.

Conversa com Edgar Boa Morte.

- Ovos mexidos e café com leite. - Pediu Charlie enquanto fechava o cardápio.

À sua frente estava Edgar Boa Morte, jovem intelectual de traços finos. Acompanhava-o sempre alguns livros do Dostóievski, Schopenhauer entre outros. Desta vez estava lendo "Quando Nietzsche Chorou" de Irvin D Yalom. Percebeu, pois havia um marcador saliente no livro, era os de uso costumeiro.

Edgar permaneceu ali assentado com ar sereno, não se viam rugas em sua testa. Seus óculos lhe davam um ar mais sério, juntamente com sua blusa de botão com as mangas dobradas até os cotovelos. Tinha elegância ao cruzar as pernas e ajeitar os óculos que escorregavam por sua pele oleosa.

Pedira somente um suco de laranja.

Charlie, um pouco inquieto, perguntara a Edgar - sempre intropesctivo - o que lhe atormentava desta vez. Ultimamente vinha transparecendo extrema tristeza.

- Então, meu amigo. O que aflige sua alma?

Edgar deu um último gole antes de iniciar a descrição. Pigarreou duas vezes e iniciou como se falasse consigo mesmo.

- Peço que ao saíres não sejas vulgar nem mesmo insignificante. Tanto me calejas o peito que não consigo deter-te. De semelhante modo não me contenho, expresso fielmente cada cor desse tormento lúgrube.

Boa Morte descruzou as pernas e olhou firme nos olhos de Charlie.

- Vens tu, tristeza. Tens esse nome abominável, mas quando me visitas traz consigo reflexões da vida, dos objetivos, sonhos e amores. Faz-me erguer olhos fugazes ao céu, e com a testa franzida, imaginar desenhos nas nuvens. Vezes brancas, vezes laranja-avermelhado-cinza. Vezes só, vezes em multidão. Você me alegra, não deixas dissabores, antes pés no chão e sementes da realidade.

Daquelas caixas empoeirada do restaurante saia um som agudo "A Message" da banda Coldplay.

- O desdém foi ali e já volta, nunca parte definitivamente. - continuava com eloquencia-. Esmurra-me os lábios o desdém do diálogo e da convivência. Falta-me sempre a vontade falar, contar fatos e contos. Talvez isso seja consequencia do turbilhão de pensamentos que tanto movem-se e esquecem até mesmo de escaparem. Como é grande a pressão aqui dentro.

Pôs uma das mãos brancas na cabeça.

- Desdém, desdenhar, desdenhou-se. As outras faces, os outros sentimentos, os outros mundos me embrulham o estômago. Seres repugnaveis, juntos com suas cosmovisões e seus egos inflamáveis. Hei de dizer e digo que ainda há volúpia na estadia desse esmagadores sentimentos. São bem-vindos quando batem em hora oportuna, sempre deixam em embrulhos algo de proveitoso. Poucos ousam abri-los.

Charlie viu Edgar esvair-se em sua frente. Quando abriu os olhos comtemplava a si mesmo no espelho do seu quarto.

Os outros também era ele próprio.