sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Diário Virtual


Ao redor do radinho de pilha estavamos nós dois e nossos amigos mas próximos. A alguns metros um vendedor de cachorro-quente com seu carinho vermelho, o vendedor de algodão-doce e o vendedor balões reparava em nós e ria das nossas longas piadas e risadas. Sentados sobre a grama verde, à sombra daquela enorme árvore, expressava-mos o dom do amor e da amizade.
Lembro do dia em que estavamos marcando aquele encontro. Fazia algum tempo e por alguns motivos estavamos distantes; cidades diferentes, profissoes distintas e um passado cheio de lembranças infantis. Lembraça da pipoca comprada no circo , da maçã-verde da roda gigante e do macaco esperto do zoológico. O nosso passado estava muito latente em nossas vidas.
Nao é fácil esquecer os momentos que vivemos juntos; o dia e a maneira que nos conhecemos. Nossas mães juram que já eramos amigos e amantes antes mesmo de nascermos; dizem isso porque por sorte ou ironia do destino temos a mesma idade e celebramos nosso aniversário meses bem próximos.
Mostra-nos as fotos que guardam de lembrança, todos nós reunidos e grudados nas pernas dos nossos pais, com nossas bonecas e carrinhos de madeira. Guardam como se fosse um prêmio o vídeo nos nossos primeiros passos e a foto do nosso beijo de amigo.
Mas nós tívemos um rumo diferente dos nossos outros amigos; dizem que quando criança, vivíamos abraçados, davamos beijo no rosto, fazíamos carinho um no outro e os nossos pais e os pais dos nossos amigos apostavam quem um dia estaríamos junto. Eu queria lembrar desses momentos que eles tanto nos falamos, tento imaginar quando vejo a fotografia. Nao sei você lembra daquela fotografia onde você estava de cueca com bichinhos e eu com uma calcinha branca sem blusa e brigavamos pelo copo de leite segurando um de cada lado. Eu carrego ainda comigo essa foto. Mas sei que com toda certeza você lembra do susto que me deu quando escondido atrás da porta esperava eu passar; você sempre gostou de me assustar. E falando em assustar é impossível nao lembra do dia que travamos uma briga de travesseiros e ao bricar de te sufocar fingiu-se de morto e depois sorriu esmagadoramente do meu despero. Como é bom lembrar desses momentos.
Certo dia peguei a caixa de fotos e cartas e achei o broche que ganhei do garoto de óculos de fundo de garrafa que sentava na primeira cadeira no colegial. Logo lembrei do dia em que você com ciumes dele jogou um balde de água e depois um saco de farinha sobre a cabeça do "coitado". Você sempre foi muito euforico. Mas além de euforico sempre foi meu protetor; lembra da menina da 7ª série que tentou me envergonhar e me bater? Ainda nao esqueço a maneira com a qual você a tratou e a repreensão que deu nela. Lembro da cara dela de frustrada e do som das palmas louvando a sua atitude.
Inevitavel nossos amigos nao tocarem nesse assunto; sorrimos, choramos e nos lembramos de várias situações da nossa adolescência. Mas engraçado mesmo foi a vez que no Zoológico o Macaco esperto colocou a casca de banana em sua cabeça enquanto você fazia caras e bocas para a foto.
Os anos se passaram e eu ainda lembro de todos os momentos que vivemos juntos, lembro do primeiro beijo no baile de 15 anos, do Ursinho e do perfume que me deu de presente; até hoje está tudo gravado em mim.
Mas um dia você decidiu esquecer tudo isso,e partir, preferiu a nossa amizade ao invés do nosso amor; eu aceitei, disse sim, neguei a tristeza e enquanto te distraía colocando morangos na geladeira enxuguei as lágrimas que ainda hoje insistem em descer.





7 xícaras:

Marcia Carvalho disse...

Débora
Gosto muito do que você escreve e da forma como você escreve.
Você é criativa, foge do óbvio, é permeada por poesia.
Continue assim!

E me chame pra lançamento do seu livro! Quero um autografado!

Parabéns!
Beijo.

Anônimo disse...

Incrivelmente envolvente, não sei o motivo, se isso vai ser comum a todos os leitores, mas nesse conto em especial, algumas imagens saltaram na minha mente;. Parece que "algumas" cenas são cotidianas, e provavelmente podem ter acontecido comigo....

Em algum momento, todos temos nossos pequenos romances de criança, e os planos que traçamos, dentro desse contexto ingênuo de alguma forma nos marcam;

Muito Bom....

will disse...

E uma viva à criatividade! Muito bom e original. Detalhes descritos nesse texto fazem, nós leitores, nos identificarmos ou nos lembrarmos de muitos momentos que vivemos.

Beijos, nocê!

M disse...

Oh, minha querida, o nosso amor é sempre incondicional. Lembro-me de cada momento como se fosse hoje, como se houvesse um filme em minha cabeça que passa e repassa sem que eu tenha controle sobre ele. Ainda releio as tuas cartas para matar as saudades desta distância longa, ainda revejo as fotos e algumas até tem o teu perfume e as cores do momento ainda que envelhecidas. Outras tem o teu riso. Outras o tempo. Não tem mais como te esquecer porque esquecer-te é esquecer a mim mesmo. Ainda mais se são tempos de morangos.

Jaya Magalhães disse...

Débora,

Que beleza de abstração! Nossa, entrei sem nem pedir licença em meio às lembranças. Belas. Doces. Verdadeiras.

Que o amor-amizade, seja sempre assim, com esse "quê" de infinitude. Pelo menos dentro, em nós.

Te beijo.

Anônimo disse...

As imagens são inevitavelmente familiares, até mesno para quem nunca as viveu. Tuas palavras são tão aconchegantes de ler que parecem um sussuro, sei lá. Parecem uma confissão contínua e aproxima nós, leitores, do teu mundo. Como se abríssemos a janela da tua casa e espiássemos o teu ato de viver. Deixa sempre a janela aberta pra mim, tá?

Jaya Magalhães disse...

Atualiza, cara!
Rs.

Beijocas.