segunda-feira, 9 de junho de 2008

D'or.

Empurraram-na.
Deram alguns comprimidos que a fizeram dormir. Interessante ver, como ela relutava em fechar os olhinhos mesmo sabendo que o sono era inevitável, uma tentativa estúpida de resistência.
Acordou com o sol batendo no seu rosto. Desorientada não tinha a mais vaga idéia do que estava e como havia parado ali.

Tinha sede.

Dos ensaios indissiocráticos do menino, ela pôde aproveitar pouca coisa. Era como se suas explicações vagas a puxassem para dentro da areia.
Ela também queria ser especial, queria fazer falta. Ele faz falta. Ele é especial pra caralho.
Embora não houvesse dor, mantinha a sensibilidade de cada parte de seu corpo, mas agora esta noção de si própria se alargava. Cada grão levado pelo vento era sua extensão, ela via o que cada grão via, e sentia-se cada vez maior. Infelizmente, manter os pensamentos em foco era uma dificuldade crescente.

Porque sempre quando a menina elefante chora, é porque quer que alguém a escute.
Porque sempre quando a menina elefante cria o seu mundo, é porque o mundo em que ela estava não era o dela.
Deus havia se tornado sádico, e a vida, uma brincadeira sem graça.
Presa e afundada em pensamentos de não-merecimento, ela sentia sede.
Puxada cada vez mais forte pra dentro da areia do quarto, sendo aos poucos soterrada, a areia entrando por seus olhos, ouvidos e boca, a envolvendo e a devorando. Arrancando dos ossos a carne - ardida como mil infernos - sai o sangue, pois o corpo humano é água, e ali alguém tinha sede. Que, por um tempo, foi saciada. Mas logo voltaria.

Então era preciso esperar.
Porque ela era a cadelinha deles, tão medíocre e obediente.


_______________________________
Das histórias da "menina elefante". Qualquer semelhança, é mera coincidência.

0 xícaras: